Friday, September 21, 2012

Clareza Filosófica?/ A Proporção Paidêutica de seu Discurso Textual


Julgar a "clareza" envolve conhecer o conteúdo, e saber se este é dado à transparência.
"Clareza" envolve o pressuposto da adequação à objetos prontos. Não: a verdade com qual o teórico lida pode ainda não estar pronta, diferente da verdade do religioso. Seu texto anda necessariamente na meia-lua, na meia-verdade.


O claro do texto é eufemismo para o que o mercado intelectual realmente quer "sem querer": a facilitação enquanto mecanismo de reprodução. Se tratamos com preguiçosos, ou com o adversário teórico, nem sempre facilitar é livrar-se do problema essência/aparência.  Para algums, facilitar é não ir ao porquê ou ao fundo da coisa; para outros, facilitar é mostrar o por que até o solo onde perguntas e respostas entortam-se todos juntos.

Julgar a "clareza" pressupõe a verdade do conteúdo, e principalmente à arrogância do acesso imediato, a arrogância de tomar a própria inteligência como padrão universal falsamente justificado  por uma falsa proporção com a erudição cumulativa. O sofista é claro, sim, mas até apercerber-se de sua não-verdade; de aí em diante é ele, pois, o que tinha sido mais obscuro.

É-se claro de forma adequada ao falar de conhecimentos cumulados e termos consagrados;na operação de des- e reconstrução do patrimônio que já mofa, porém, nem sempre.O patrimônio cultural mofa pois achou-se muito claro e comunicável. Não, o passado está cada vez mais perdido, e o 
presente um instante solto no ar. Gaseificamos na transparência do gás (...) (...) (...).

Negligencia-se as dimensões da clareza, o que sabe confude-se cada vez mais com o que não sabe, comforme o demoníaco propósito deste último. Cristo foi muito claro, enquanto ser verdadeiro. por outro lado a propagação e potencialidades infinitas de seus sinais são misteriosos. Ora: igualmente, se ele fosse mal, o seria tanto pelo claro quanto pelo escuro.

Ser claro, quando respeita-se a sombra do  Desconhecido ao escurecer, é breve engano. Ser claro porém, deve ser reservado à raros momentos de luz: um entre-luzes.

Muitos, como o sedutor, pecariam muito em ser "claros"; perderiam a amada. Talvez da mesma forma teria Sócrates perdido Alcebíades, nunca tendo-o envolvido no afeto de seus laços retóricos. É preciso rir dos que tratam a clareza sem seu contrário dialético, e dos que negligenciam a falibilidade da obrigação textual filosófica. Caso tudo dependesse da vontade, a vontade esclareceria-se adequadamente por si mesma.  Não, há algum elemento de relação de poder que refreia a vontade, o ato livre; e no receio do ato mágico 
perde-se a unidade do encantamento.  Sim, agora tens razão! Melhor seria qualquer máquina no lugar do encantamento frustrado!

O problema da "clareza" assume importância quando esta vira um valor sem qualquer relatividade. Adorno, certa vez,  não foi-me claro, e não parece sê-lo a muitos. Por isso não sou talvez seu grande conhecedor, e teria um motivo aparente para desprezá-lo quanto ao "papel social". Contravalorar Adorno pela sua forma de mediação, por outro lado, é pretenção questionável. Mas, neste exemplo,  - caso eu tenha chegado ao conceito de Adorno, e então verificado que ele traiu, na forma de se exprimir, o próprio conceito - isto é somente um pouco mais fundado.


Mas, e se ele foi claro ao mostrar enquanto tal algo que não está claro ? Não vale a pena exprimir um encantamento frustrado, mas ao invés disto, fazer falir no texto mesmo a obscuridade das coisas que prefrem se ocultar após o momento mesmo em que escreveste. Caso contrário, tua clareza mente a ti mesmo, e consiste apenas num fazer esquecer da complexidade das coisas.



(...)


A época presente deveria mais é excitar os pluralismos da compreensão, sua verdadeira democracia, principalmente através das formas vivas e múltiplas da compreensão: justamente esse universo " obscuro", que compreende a música, os poemas, a simbólica, os textos sagrados, os sonhos. Poderia-se chamá-lo, parodiando Schiller,  A Educação Hermenêutica do cidadão cultural.


A consciência das virtualidades da própria noção de  clareza é o sinalizador de seus perigos ou de sua legitimidade. Nem sempre convém dizer a verdade, quando esta perde-se no dito; e enquanto se não a diz, por que se não a consegue efetivamente dizer , pode convir guardá-la com carinho. 

Ora, o símbolo é ainda o melhor carinho do significado. E não há  acesso público para os que não amam o procurado.

Fora a gramática,o idioma, a compreensibilidade é uma questão de amantes; e a clareza apenas um mais ou um menos para a afinidade.

Claros,alíás, foram os imperialistas: sua tarefa é provar o ápice da crença na comunicação: a clareza na não-afinidade. Mera etiqueta. Caso não funcionasse, já há muito estaria-lhes disposta a clareza unívoca da violência.





Monday, September 17, 2012

Misticismo Dialético.

(1) Não há  nada verdadeiro, a verdade não há.
(2) Só há verdade, a verdade é o que há.
(3) No mundo, toda verdade é meia verdade.



Das proposições acima, a única que contradiz a si mesma é a que parece mais clara, e inclusive é a mais asserida irresponsávelmente por várias pessoas,isto é, a primeira. Ela se contradiz caso seja sujeito da própria afirmação. Se absolutamente não há verdade, não há nem a verdade sobre a não-verdade. Seguindo adiante,caso só houvesse a verdade, e tudo ela fosse, isso nada contradiria a segunda idéia - mesmo sendo idéia  obscura. Por fim, a única frase verdadeira tautológicamente, é a mais enigmática, proferida em uma psicografia de F. Pessoa:
Ora, se tudo é meia verdade, a realidade disso não só não fere o pressuposto como até o explica e o funda ciclicamente, e ainda projeta em si mesma um movimento simultaneamente rumo ao desconhecido e ao conhecido, isto é, de essência dialética.

(4) Alguma verdade há. Mas a par de que
nem tudo seja  verdadeiro.







Thursday, September 13, 2012

New? Original?

The way of the repetition  is , as a authenticity  of the sacred,  the authenticity of the new.

Litografia

Se fosse-nos dado escrever numa pedra sagrada, isto é,
somente uma única vez, tería-se pensado muito bem acerca daquilo
que deveria ser escrito,embora não o pudesse,
e teria-se concluído que talvez o mais
sensato a fazer seria um desenho onde nele se reunissem todos os significados.
Isto sim seriam uma idéia e expressão clara do que há.

Falta-nos talvez é menos digitar
e mais caligrafar.

Penso.Penso? Escrevo.Escrevo?

Escrever o que se pensa dói! E esta dor é a irrealização essencial do pensamento. Pois ao não ser escrito o que se pensa, duvida-se sobre realmente ter sido pensado o que se escreveu: o pensamento pode ter não sido ou , havendo sido, ter-se mesmo perdido esquecido.

Saturday, September 8, 2012

Argumento Moral

Eu digo assim: significa algo hoje em Filosofia "responder moralmente" pelo escrito? Ou o escrito é uma nota fiscal automática? O argumento moral entra como forma de argumento entre outras? Caso não, digo que escrevo como resultado de uma crise causal qualquer; e por ser causal, é lógico, logo válido, tediosamente válido porém... Fica sempre implícito qualquer tipo de argumento moral, e nesse sentido até de poder, nos jogos filosóficos. A verdade de quem não tem autoridade moral nada vale. É exatamente esse o problema que o religioso coloca ao acadêmico: como o filósofo hoje entende seu trabalho?.Se ele estiver em falso caminho, está disposto ele a comprometer o nome da profissão? Esse são meus pensamentos presentes!

Friday, September 7, 2012

Ignorância/Urbano

As pessoas me perguntam frequentemente: "Emanuel, o que difere Salzburg de Florianopolis?". Agora me passa pela cabeça uma boa resposta, direto dos Ingleses e do lugar para onde está indo dejetos que a administração nacional negligencia tratar: a ignorância lá é quieta e mais bem acomportada na eterna reputação puritana que o tempo de Mozart conferiu à Austria, e por isso é interesse de mecanismos de poder abafá-la (nem tanto eliminá-la);aqui , por outro lado, a ignorância é sempre algo invasor e iminência da pior forma de opressão; começa com um vazamento, mas termina em uma enchente.

Devemos ser gratos pelo Ser estar sendo e funcionando a todo momento, sem te cobrar nada em troca.Sentir isto é uma forma de afinar e vibra...