Tuesday, May 31, 2016

Harmonia

Duas fontes de loucura:
condicionamento demais e incondicionamento demais.

Conforme Philolau, o pitagórico, a harmonia é o bem de ambos numa só coisa.

Ora, o amor é a mais forte harmonia.
 A harmonia a força do amor...

(Tal o verso entonado por Monteverdi à Pompéia,
  sob medida das suaves tensões do rosto rico)

No pensar é verdade, no fazer o bem, na criatividade o belo:

Amor e Harmonia,
Análogos reversíveis.

Ato e medida contínuos da perenidade do ser,
determinada e indeterminada à razão de um fogo secreto,

                                                                                                    (quase heraclítico?

Monday, May 30, 2016

Atonalidade

Atonalidade é a utopia de uma elite na música. A versão musical do delírio da émancipation individuelle totale, que quase tudo hoje coordena.

 "Neue Musik" é o eufemismo desta utopia, a utopia de uma música total;
  música nenhuma, embora exímia arte da artificialidade do som.

É o modo que favorece músicos apáticos para com os intervalos musicais, de gente que nunca gozou do próprio canto, da próprio improviso, a conspirar com pseudofilósofos e o valor meramente sindicalista de seus "studies".

As outras músicas ruins são epifenomenos da doença de uma elite que rouba-lhes a pira.

Jurisprundência

Imagine  que a filosofia seja uma jurisprudência de idéias que guiam a humanidade à esquerda ou direita, e cuja constituição é disputada e aquática demais, e cujo emprego, como tal, não existe, e cujo risco é grande e nobre, e cujo nome é ambígüo, neutro, belo e horrível, causando temor quando soa, causando pudor quando rufa. Os filósofos decidem-se fundamentalmente entre juízes, promotores, ou advogados. Às vezes pensam sê-los em vão; não passão de vitma ou testemunhas de uma idéia.

Sunday, May 29, 2016

Xadrez

Ah tornar-se enfim erudito, um grande filósofo, um belo empregado, um grande pensador, o "magister perennis" do livro que apropriou todos os livros, o tema de monografias e conversa nas festinhas de fim de curso,  da discussão internacional dos departamentos, o polemista recluso na glória do ostracismo geral, ou o que escreveu para "aqueles",  herói do original no livro que refutou todos os livros, da palestra que persuadiu o consenso acadêmico, igualmente o pleno senso comum, arqueiro da flecha  certeira do arco interdisciplinar...

Ah conquistar um patamar onde se esquiva-se cada vez mais facilmente de perguntadores fatais. Poder instituir conversas sob controle, configurar os convidados, evitar a questão "que levaria-nos longe demais", desbastar os cantos enferrujados da memória, evitar ser repensado pelo Outro sob a leveza medíocre  de seus pensamentos - mas da ameaçadora noite escura destes, ao mesmo tempo. Não perder tempo respondendo ao marcineiro, explicando ao carpinteiro, tolerando a insistência da enfermeira inquisidora. Ao diabo com apostolados: meu tempo é curto, pois mede-me apenas a fita da eternidade.

Trata-se de um arco de mármore, cuja contraparte só poderia resumir-se ao próprio símile: outro arco de mármore.  Nunca qualquer um , e não mais que um.

  Significa morrer nas perguntas escolhidas à altura da coragem ou covardia de si mesmo, mas sem de fato poder dar ao mundo acesso a isto que ele mesmo no úmido subsolo de sua alma não ousaria duvidar durante mais que a gota de um lon-güin-co segundo (...) Não duvidam uns por certeza demais; outros por dúvida demais.

Mas ora, não fora sempre conhecimento um parco fecho de luz ao horizonte, que frente ao Desconhecido, tanto grande como pequeno, não faria mais que debater-se contra o Infinito?

Todo filósofo desaparece de alguma forma no vapor de sua própria caldeira. Nenhum sujeita-se ao constante jogo do ganhar e perder, à vertical do cair e subir, do cheque e descheque, ao paradoxo do peão-Dama, próprios do que os grandes enxadristas prefereriam travar consigo. Todo admnistra como pode a linha tênue entre lógica e retórica da palavra "todo";

                    nenhum parece hesitar em ilhar-se com este inverificável "nenhum".

Friday, May 27, 2016

A Verdade do Original e a Verdade do Originário

Vivemos em dias nos quais se é condenado por qualquer tentativa intencionada de "ato verdadeiro" ou por qualquer "ato pela verdade", quando só é permitido ser uma ação passiva dela, um negativo tirânico monovisual de qualquer juízo de valor, de qualquer descrição pura dos fatos baseada nos legados mais originários do ser humano, e longe, pois, do falso originalismo e independência que assombra-nos pela modernidade adiante.

Saturday, May 21, 2016

Visita Essencial

Se o sábio Aristóteles passasse por aqui novamente,
certamente diria-nos espantado em seu enxuto grego:

"De fato, vosso mundo perdeu a substância;
tudo não passa de um grande acidente,
 sem prumo nem rumo."

Quanto vale desafiar a essência com outra coisa?
O seu atributo divino é sempre existir de fato,
E o outro, mais humano, ser, por antecedência aos fatos,
     
                                        o mais real do pensável.

Espada Covarde

Uma coisa é saber a verdade,
outra coisa é não ser covarde e dizê-la,
mesmo contra a própria imagem.

Assim hesita o guerreiro cansado frente à difïcil espada de diamante.
Ou o sábio envergonhado do que descobriu por experimento.

A postura é cínica ou irônica, e nivelada ao engano  do próprio interlocutor, de certa forma apenas imaginário.

Como livrar a ironia religiosa do egoísmo, contando a verdade apenas considerando uma de suas metades?

Que coragem haveria em dizer a verdade apenas
em sua metade, quanto à mensagem, e apenas sob um pseudônimo, quanto a forma de dizê-la?

A verdade na covardia não é verdade de inteiro,
enquanto só uma verdade inteira força à coragem ,

pois, se na verdade,
então junto a tudo o que é por peculiar necessidade.

Esboço para um Retrato das Espirais

Uma dialética deixa-se representar como uma espiral vertical e ascendente, indo do temporal ao sobre-temporal, do efêmero ao perene, preferivelmente de forma cônica, sedenta do eterno.

Outra deixa-se representar em uma espiral horizontal e progressiva, indo do temporal ao mais temporal, do efêmero ao mais efêmero, preferivelmente de forma cônica, insatisfeita com o próprio efêmero, e de forma invertida sedenta pela destruição.

O eufemismo intelectual mais delicado para esta última seria "dialética negativa": das respostas possíveis apenas a negativa é resposta.  Ela converte-se facilmente, por paradoxo, num jogo confortável e mútuo do sim.

Trata-se de uma espiral em movimento retilínio uniforme, ou que se movimenta em todas as direções opostas ao mesmo tempo, de modo rizomático entre o vácuo das estrelas mortas.

Para a outra, qualquer expressão parece pobre demais para afirmar os jogos internos de sua composição: para as respostas possíveis, mesmo as negativas contém um aspecto positivo e apropriador.

 Surge um planeta, uma estrela, passa um cometa, e o sistema permanece plantado, orgânico e vivo.

De qualquer modo, ascese e superação são entre ambas os análogos mais perigosos de qualquer esforço para a humanidade erguer-se - não voar;

eis, pois, uma propriedade não só das espirais, mas ainda âmago intrínseco das curvas.

Tuesday, May 17, 2016

A vida intelectual nas redes sociais (1)

É bom que tudo o que somos capaz de pensar já esteja saturado em posts pré-feitos por gente superqualificada.Logo haverá "disputationes" consistindo apenas num diálogo entre estes posts.

Sunday, May 15, 2016

Improvisação / Onanismo

A improvisação musical é nobre não pela maturidade da obra-de-arte que produz, comparada às outras, que são feitas sob princípio do aperfeiçoamento, mas sobretudo por mostrar o vigor e vitalidade inicial da criação: é um ato fecundo, mas não uma fecundação.

Ser-reprodutor

O ser-reprodutor cuida de regras e condições para o ser-criador.

Ser-criador

O ser criador é aquele que cria por necessidade, mesmo antes de governar todas as regras do que cria, ou dispor de outras condições para isso: inicia da regra- e da experiência-zero. Ele transcende e viola a condição posta por um ser antes mesmo de ela existir como determinação posta a partir de um ser.

Há dois seres criadores: o com vistas ao original, e o sempre originário; o original graças ao originário e o originário do e para o original.


Denúncia

Já que foi proibido comentar, comento aqui. Este video deve ser urgentemente denunciado ao "Comite de Dialética Eterna Universal"  (olavo@olavodecarvalho.or) :

https://youtu.be/6F95tt3xvyU

Que autoridade de pensar em público pode ter uma pessoa desta?

" Eu tenho conhecimento sobre ocultismo pois traduzi obras de ocultistas; portanto julgo o ocultismo de Olavo".

14.000 mil pessoas "curtindo" um pensamento do tipo : se a cama fosse branca, mas o pé é amarelo, logo o estrado é marron e a cama  ruim, e por isso a cama é branca, já que falo bem convencido disto.

Parece aqueles que xingam, ofendem e saem correndo. O único problema é que estão formando opnião contra gente séria a partir destes video-selfies de boca de rua. É um fascismo vindo de baixo.

Vale o selo de "burro", perdão...

Saturday, May 14, 2016

" Burro!" ( Uma tentativa em Lógica)

O sujeito é burro quando nega por meros sentimentos negativos um argumento válido na forma e correto quanto aos fatos que lhe servem de premissa ( "argumento verdadeiro"), teimando por este caminho.
 Isto quer dizer, o Burro é quem argumenta exclusivamente ad hominen e ad fortiori , por motivo de não ter outra saída afetiva e cognitiva para tal, sofrendo ele próprio frequentemente as consequências disso . Desta forma, xingar ou qualificar alguém ou si mesmo de burro, especialmente num contexto de retórica filosófica, é uma espécie de ad hominen elevado ao absoluto: parece haver algo de especial a mais!

O advento da burrice, ao lado do de abuso de poder, mostra-nos a fragilidade de saber algo baseado em premissas verdadeiras e concluído validademente - mesmo do ponto de vista mais formal. Somados uma a outra, burrice e tirania mostram-se de fato algo avassalador. Por isso não é mal que muitos venham desde anos desenvolvido uma arte contra isto....

Kierkegaard talvez diria: " Trata-se do momento onde é evidente que nao vale a pena te levar com paciência na ironia devo por termo nisso seriamente".

Vários filósofos xingam interiormente os outros de burro, acredito. Deve ser uma espécie de exercício interior. Mas a diferença que ponho é: um caso, o popular,  significa " idiota; pensa direito; desatento!; não gosto de voce pensando assim... ", e noutro " enfim, o diálogo racional e cordial é impossível por tua culpa, e continuar me ofende na dignidade intelectual. Então se me acusares de algo a respeito do qual não queres ou não podes entender minha defesa, chamar-te-ei de burro".

Enquanto chamar alguém de burro simplesmente é ofensivo, Olavo converte isso num contra-ataque por parte do que tem razão frente aquele que nega objetar o conteúdo de um argumento, esquivando-se por vias suspeitas. Se chamas de burro alguém que tem razão, este irá repetir seus mesmos conceitos, clareando-os mais uma vez; mas se chamas um charlatão intelectual de burro, este esquiva-se do foco como um rato, voltando por trás.

A palavra parece sempre ter sido afastada do tom intelectual precisamente por seu jeito ofensivo. Eu mesmo compartilhei este sentimento já alguma vez e acho que escrevi neste site mesmo dizendo que não há conteúdo em chamar alguém de burro -  o que de início é de fato a verdade de toda ofensa na argumentacão. Mas eis que de uns tempos para cá, a insistência de  Olavo de Carvalho deu-lhe um matiz muito próprio e quase intelectual, como se fosse o coroamento terminológico de sua filosofia e engagamento jornalístico tal como o absoluto hegeliano da pessoa Hegel mesma. Certamente há algo de duplo em torno disto: cômico e absurdo.  

Os motivos para esta postura, porém, no são apenas baseados em sentimento, mas em duas coisas ao menos. Por um lado, na tentativa de descrever um caso-limite intelectual, onde após o locutor demonstrar um fato, o interlocutor nega-lhe ( por esquecimento, cinismo, ou má vontade) a simples compreensão do conteúdo que foi dito, sem confundí-la com a asserção, e sendo assim a única forma de contra-atacar. Por outro lado, é sabido a influência do cavalheiro Robert Scruton em suas abordagens sobre ( e muitas vezes sob) o termo "conservador". Bem, Robert Scruton afirma perante a mídia inglesa algumas posições tão "radicais" quanto as de Olavo, mas com uma suavidade que me parece às vezes pedante. Então suponho que Olavo, ao ler um filósofo destes, traduz interiormente seu discurso em uma forma mais brasileira... Nesse sentido é que muitos errarão quanto ao emprego peculiar do termo em sua fala-  o que não significa que seja um conceito de sua filosofia. Mas eis que eu ofereceria ao leitor uma curiosa reflexão quanto ao experimento de supor a burrice como algo próximo a um conceito mesmo, o qual teria ficado célebre pelo filósofo. O mesmo vale para os "estultos" e "tolos", citados por Erasmo ou na Bíblia mesmo. Não fique, pois, tão assustados com a novidade...

Pois não é, também por isso,  algo para o que ele não tenha motivos da filosofia mesma: Aristóteles já dizia em sua Ética que o virtuoso se expressa com veemência quanto a fatos injustos demais.

Por estes motivos é que trata-se de uma palavra que, mesmo chula e ofensiva no cotidiano, parece  muito especial para o filósofo e homem de saber em geral, e que acusa  uma situação-limite frente a um adversário ofensivo e não dialógico; um limite não de sua sensibilidade apenas, mas de seu uso eficiente e comunicativo dos conceitos. 

Seu charme, porém - e , na minha opnião, humor mesmo - parece estar na mão dos conservadores, ao dar-lhes algo de subversivo e que desafia o  próprio "gentleman" ...



Friday, May 13, 2016

Roger Scruton


Eu comigo:

"Conseguirá Scruton ser mais que educadíssimo, respeitabilíssimo, moderadíssimo e bem-intencionadíssimo?"

Seu público:

"Torcemos por você!".

Olavo de Carvalho:

 " Deixa o facão comigo! E se tiver dúvida, pergunta para mim que eu dou uma dica..."

Tuesday, May 10, 2016

Universidade ( outra vez)

Eu ficava pensando comigo romanticamente naquela universidade linda de Foucault e Deleuze; classes cheias, discursos densos, comentários longos de estudantes à altura dos mestres. Mas daí eis que percebo devermos suspeitar muito bem o motivo de ter sido esta uma era para tais devaneios românticos: percebo que o motivo parece ter sido justamente a grandeza e fama destes mestres, que por falta de verdade, e não acreditando nela, acabaram posteriormente por levar a universidade abaixo, rompendo o limite e distinção das coisas que lhe dava a estrutura própria de um orgão do saber conformado à busca pelo real no discernimento, e não do fingir-ser conformado a fins.

Monday, May 9, 2016

Máxima

Para seduzir a sabedoria é preciso deixar-se antes ser conquistado por ela;
perante esta não abrir mão de uma humildade férrea;
mesmo correndo risco de passageira arrogância,
frente aos que lhe são menos humildes,
de ouvidos malevolentes, ou sábios por acaso.

Sunday, May 1, 2016

Dois Aviões

Parece que um avião brasileiro poderia cair por motivo de alguém ter corrompido alguma regra, p.ex. ao tomar cerveja demais na cabine, ou perder os olhos em algum corpo lindo; por outro lado, parece também que um avião austríaco, severo demais, teria caído por sobrecarga da psíque, p.ex. ao piloto bossar o co-piloto, que se desculpa por ter atrasado seu relógio, ou por outra coisa.

(...) Ou ainda por falta de humor: o que cansa demais a concentração e atrofia a inteligência.

Devemos ser gratos pelo Ser estar sendo e funcionando a todo momento, sem te cobrar nada em troca.Sentir isto é uma forma de afinar e vibra...