Tuesday, March 31, 2015

O PAPA É POP



O pessoal não lê, é claro, a tal " Encíclica" - que é escrita já de modo tal que todo a compreenda! No Brasil eles conhecem o dito do papa pelo JN ou pelo Gugu. Na Itália por uma revistinha de 1.50 Euro que comenta apenas suas privacidades. Na Áustria um símile desta revistinha está para sair também. O pessoal gosta é do quadrinho do papa pendurado na sacristia, às vezes maior que o crucifixo mesmo. Assim não da nem para falar ou criticar " posições da Igreja". E nem saber se são elas mesmo horríveis, ou quais são de fato quase a salvação. Do contrário teriam caído já em guerra contra outras religiões novamente, desta vez no século mais violento. Há enfim uma ignorância recíproca e crescente: a do religioso, a do não religioso, e a das principais religiões, que relaciona cada um em deles entre si num "complício". O papa mesmo, em meio a adulação ao seu poder, e menos à sua santidade, vê-se no risco natural de confundir-se a si mesmo. Veja-se, p.ex., a disputa sobre o conceito de santidade entre Kant e St. Thomas: numa a relação com um Deus infinito, objeto do conhecimento, reduzido ao hoje precário conceito de causa,  noutro com Deus apenas indiretamente, ou seja, numa relação com a pura exigência subjetiva da moralidade face ao limite do conhecimento, relação independente do causal, mas antes constituída na purificação ascética da vontade face ao dever (...)  Essa "querela" parece inatual, ou melhor, inacessível mesmo ao público escasso da Encíclica, que estimo constituir-se por teólogos, padres e religiosos em formação - exceto incluam-se nisto fiéis que arrisquem sair da região de conforto. Evitando fazer da Encíclica uma " Complíquica " a esse respeito,  consultou-se, pois, para a última delas, a teologia do meio ambiente de Leonardo Boff, que estudou cinco anos em Munique com um dos teólogos mais comentados no século passado, Karl Rahner. Veja, não trata-se exatamente de " nossa teologia!". P. Francisco teria que responder nela algo sobre a dívida da Teologia Cristã para com a matéria natural - problemática subjacente à deterioração do meio-ambiente. Mas duvido que o faça mais na forma de resolução de problema que simplesmente em uma expressão ativista cortesã e pensamentos de diplomacia interdisciplinar. Quer dizer: no que toca aos pontos decisivos, leia-se antes então Leonardo Boff e Karl Rahner mesmo ...

 Ao papa seria preciso o talento de andar como um zero em meio a  todas contraposições ambíguas na conjuntura do poder  que representa: ser e não ser, ora à esquerda do número, ora à direita. Pois têm toda sorte de inimigos; o maior deles, a hipocrisia dos católicos mesmos face à teologias, que entre si mesmas disputam, e o populismo medroso - conseqüência de uma "misinterpretação" da "Missão" - que tirou faz muito tempo a vitalidade religiosa, que em última instância punha-se em relação com o mistério natural da matéria,  e que fora evocado pela afirmação desenvergonhada do místico e hermético de seu ritual.

Friday, March 6, 2015

Agregados

Chegando à marca dos 700 amigos, dos 1000, enfim ,olhe-se então entre eles na lista oferecida pelo facebook, e ver-se-á que há gente de que não fazemos a mínima idéia; como vai com eles?! Vão bem também? Estou falando com vocês. Contato! É, ficamos meio-assim de perguntar... É o novo tipo de agregado. As etiquetas mesmo não dão conta se se atualizar: os fatos mais imperceptíveis correm à frente! Qual ingênuo face à presença e lembrança diária de tais " regiões cinzas " do social era o delimitar vizinhança com horários de visita e muro da casa .  Que status tem a frase " Amigo é o que deixamos entrar em casa" frente a isso ? Contatos dão-se por soma, justaposição e aglutinação. Na verdade são dados que entram em contato, e com isso -  provocando um flosquinho da sensação de proximidade - movimentam ações desconhecidas pelos usuários. Entre eles facebooks de quem procura emprego por via indireta, outros  de quem cujo gosto musical deve ser ouvido, outros os quais acharam a melhor forma de ampliar o partido político, outros que por aí zanzam com nua vergonha - dão aparência de dizerem o que pensam... - e por vezes esperimentam curiosos o detalhe de cada função, de cada pecinha deste brinquedo autônomo, ainda não concebido por sociólogos e filósofos; sobretudo maluco mesmo, onde o mais bacana  teria sido escrever, escrever, como um pão sovar a teoria do imediato minuto mesmo...

Arrogante


A consequência do popular cultivo passivo da sub-cidadania - delegando o epiteto " culto" à bossa universitária, onde a ignorância ganha seus fortes de mármore - tem por consequência criar uma matilha revolucionária de arrogantes esnobes, um Idealismo do Subúrbio, meia-sombra do romantismo alemão, com bombas intragáveis àqueles que certa vez hesitaram, enquanto caríssimos filósofos de um público, falar em diálogo justo e razoável com a realidade suburbana dos que constituiam a malha de seus auditórios chapados.

Besteira

Eu estaria de bem com as besteiras, fossem elas ao menos  não mais que 1/3 do total da demanda verbal. Com o facebook estou tendo a oportunidade de apreciar besteiras e estupidezas das classes sociais e culturais mais diferentes - quase de todos continentes digo. O que me empalidece é mesmo a perda de inteligência para o absurdo e para o ridículo que fundam o cômico; a perda do âmbito da rizada, o qual - fonte de criatividade -  consiste num abuso intencional do possível e do imaginário. O cômico foi substituido por uma nova ordem: a da besteira, a da estupidez. A comunicação imagética serve apenas e sobretudo à sua propriedade mais efêmera: causar o frêmito de um "sensaçãozinho" e um "curtezinho".

Monday, March 2, 2015

SÉRIES

Vou passar minha vida tentando entender por quê a ação-social-repetitiva ganha de dez à um sobre a ação- social-criativa...

Da verdade sei porém uma metade: Na última reside o erro e o risco. Na primeira o mofo, que consiste na adição à série. Na ação-criativa, porém, reside a possibilidade do pensamento transgressor da bio-logia de nossas percepções, e onde por exemplo, o "um" do mencionado placar é, claro , menos que dez, mas - sobretudo - um salto qualitativo : o que em sua di-visão contém um outro dez, diferente. Lembrando as artes marciais: o salto frontal e mortal do samurai vendado.

(...)

Os dias e sóis de alguns progridem ao infinito e lá perdem-se do corpo.
Os de outros regridem à tríade do mistério pascoal;  
 enlouquecidos pela paixão do paradoxo,
 banham-se no sangue do carneiro imolado;
Quebram a própria série aritmética de conquistas e perdas evanescentes.
Quebram-a, enfim ,quebrando-se.

Não é tua, ora, A culpa. 
A todos, pois, adia-se-nos o dia de tal liberdade.

(...)

Quanta poesia será de ser feita, e quantos autores precisaremos citar para quem cuja intenção afasta-se diametralmente do mofo de seu próprio sofá mental?





Sunday, March 1, 2015

XINGU

A diferença entre nós e o povo do Xingu é que, enquanto nós , na maioria,  não sabemos quando acontece o próximo eclipse lunar, eles - os índios - já estão preparando-se com um culto a ele.  A outra diferença é que, mesmo caso não haja nenhum eclipse, e o chamã tenha errado " desta " vez, todos aguçaram os sentidos para a natureza, e por alguns dias tudo fez mais sentido que qualquer resto de culto no mercado ocidental : a espera é de tal forma que preenche o destino.

Devemos ser gratos pelo Ser estar sendo e funcionando a todo momento, sem te cobrar nada em troca.Sentir isto é uma forma de afinar e vibra...