Saturday, January 23, 2016

Gradus ad Parnasus





Filósofo de 58 anos, assassinando a barba do pobre Gaston Bachelard, sugere ao Brasil, país cuja cultura do bom gosto sempre superou mesmo os ingleses elizabethanos, os austríacos mais josephinos, mais puritanos, soluciona nosso problema estético sugerindo pornografia como caminho do refinamento do gosto teatral

"Aí vem aquela baboseira toda dos doutores autodidatas da vida, falando aqui e acolá e nunca disfarçando o moralismo e a incapacidade de conseguir ver o corpo humano nu sem se estar fixo nas partes pudendas. Pessoas que nem mesmo sabem assistir pornô querem ver teatro? Não pode. Mas, exatamente por isso, mais uma vez o teatro cumpriu sua função e, nele, o ânus venceu novamente".

Pior: coitado até mesmo dos pornográfos e eróticos mais dedicados e geniais eles mesmos, e de quem os encontrou num chiqueiro marginal. Nem um " Emmanuele " supera mais o cusismo brasileiro. E agora na boca de um amante da sabedoria.

Nem Marcial, epigramista antigo, mestre nos retratos da putaria romana, o expressaria em palavras. Ele nos pediria redefinir a ars oratoria em função de uma ars ani, que vende-se-nos como ars nova.

http://ghiraldelli.pro.br/macaquinhos/


Por isso cito-lhe aqui um conceito bem ao propósito, caro ao pio Olavo de Carvalho: " Filho da puta"!

Metabolismos do Cú Diabólico ( O caso " Macaquinhos")

O diabo é o símbolo puro do demoníaco ; isto é, daquilo que se manifesta como mal positivo ao livrar-se de uma certa tendência da consciência em relação a sua perfeição, à plenitude, dentro de sua possibilidade nesta ou tal pessoa.

Ora, o que pude experimentar no Brasil, e constituiu-se como um, talvez o principal, dentre outros motivos que me levram a sai do Brasil, parece mesmo o culto do demoníaco, isto é, a renuncia total a qualquer forma de perfeicao, num pacto com o fomento positivo do caminho inverso ao da dialética da consciência.

Nem em todo lugar do mundo , é claro,  há uma ascese.  Ela sempre foi assunto religioso. Mas em muitos, ao menos, o sujeito é no máximo mediocre: nao vai acima nem abaixo.  E isso é compreensível, pois nem a todos é dado saber algo, ou ter uma vida que favoreca certa transparência de sentimentos.

O fato, porém, de no Brasil, talvez apoiado em falsos darwinismos sobre a origem do humano, cultivar-se o caminho contrário, isto é, constituindo p.ex. uma estética teatral da banalidade anal, sem nunca porém ter atuado Shakespeare, Sófocles,  Artaud, com amor e dignidade intelectual para com tais ideais  - e entendendo este culto do contra-valor como o apanágio da cultura, que deveria ser o culto dos valores, sejam quais forem - näo pode sequer entrar em comparacao com os ascetas e com os mediocres, ou conformados.

 Pois parece plausível entrar em conflito com o demoníaco, presenciar o inferno - o que em certas tradicoes, mencionando o mito de Orfeu, ou idéias da Alquimia,  é mesmo parte do maturamento - e os exageros da ascese, mesmo no seu aspecto mais totalitário, contém ao menos uma origem racional, a qual podem ser reconduzidos os piores enganos da boa intenção ; mesmo os bacanais mais suados devotos a Dionísio, ou o sacrifício de partes do corpo como óbulo a um "milagre" do demônio, mesmo o homosexualismo místico, a assembléia do coro nu contra a tirania do urbano sobre o palco cantando à Demeter, mâe da Terra, seriam plausíveis ao nocional antropológico que cabe ao intelecto esforcado;
 
       [mas nunca será admissível, explicável, nem pelas próprias seitas satânicas mais organizadas, um culto imanente, antisemântico, real, concreto, sujo, absoluto ao cú.






themacaquinhos.tumblr.com/

Friday, January 22, 2016

Técnicas preferidas do charlatanismo acadêmico. Lição I ( A Elipse)

Entre as técnicas preferidas do charlatanismo acadêmico, consta a elipse do adversário. Ela consiste p.ex. em não desenvolver suficientemente a tese contra a qual se posiciona-se, favorecendo assim uma interpretação malevolente das idéias em questão.

Assim, por exemplo, o sujeito, ao querer ante um projeto de pesquisa defender uma integração entre corpo, mente, e os próximos,  unidade que seria inerente aos sentimentos, critica que Scheler reduz as sensações ao corpóereo, separando delas, assim como deste, os sentimentos. A isto se culparia o próprio Scheler, seguindo nosso exemplo, que ele estivesse "separando os sentimentos em categorias" demais afastadas, como corpo e espírito; e que, ao desrelacionar  sentimento e corpo, Scheler impede a socialidade que devesse ser inerente ao conceito de sentimento.

Conto-vos um caso do Instituto de Fenomenologia da Universidade de Viena.

Aqui notam-se duas elipses, ou , do ponto de vista da má-intenção, omissões mesmo. Na primeira, se esconde a terminologia básica de Scheler, que envolve uma distinção entre sensação ( corpo) , sentimento ( algo psíquico,  ou seja, um recipiente complexo de misturas entre o espiritual e o corpóreo) e simpatia ( a faculdade subjetiva de reconhecer e conspirar em si mesmo com sentimentos alheios, isto é, objetivamente). Na segunda - pior ainda -ao argumentar contra um individualismo do conceito de sentimento atribuído às "filosofias recentes", não se menciona sequer o conceito scheleriano de simpatia, nem posiciona-se contra algo equivalente à robustez deste conceito.

Perdidas as linhas semânticas básicas, se trivializa a discussão, inabilitando mesmo os argumentos mais hábeis, uma vez que eles, mesmo que por, boa fortuna, desenvolvendo-se corretamente, perdem o contato com aquilo que querem tocar: idéias alheias, e fatos reais.  A partir disso se cai em uma àgua completamente triste e curva, onde o sujeito sugere - com ar de originalidade, creio - o conceito de "co-felling"(...) ; como se a palavra simpatia (ingl. sympathie, gr. sympatheia), independente de sua posição conceitual numa teoria, não abarcasse em si mesma o mínimo exigido para relacionar a subjetividade de certos sentimentos à alteridade instrínseca de certos comportamentos, e à alteridade essencial de certos sentimentos mesmos, p.ex. como o amor.  Sem uma palavra sobre isso, ele marcha adiante.

Em breve, ensinar-se-ia nas escolas o "co-felling" como algo filosoficamente diferente da simpatia (...) Isto mostra um desconhecimento do uso filosófico das palavras, que se distingue pela amplitude de seu horizonte histórico, e que regra-se normalmente pela etimologia ou pelos conceitos de origem, que formam sua noção geral, permitindo a formação conceitual mesmo num futuro distante das origens dos mesmos. Pois é claro que num texto filosófico percebemos a diferença entre simpatia como o " ser legal" e simpatia como uma faculdade antropológica. Só partindo de um substancial resumo deste idéia, para a qual contribui Scheler, é que "co-felling" poderia ser localizado como conceito: isto é, como o conjunto ou elementos de um conjunto de sentimentos gerado  na simpatia, e como resultado desta faculdade. Pois não há plural (conceitual) de simpatia, mas de "compaixões", como constelação de atualizações da simpatia.

Por tais motivos eu sugeriria algo como um Instituto Mundial de Policiamento Lógico-Dialético das Manifestações Acadêmicas (...)

Nas próxima lições relativas ao " Técnicas Preferidas do Charlatanismo Acadêmico" eu gostaria de abordar outras técnicas indispensáveis para o sucesso dentro do paradigma chartlatão e do auto-embuste que alatra-se de modo indefinido pelos espaços retóricos mais privilegiados, principalmente os institucionais; dentre elas, o não deixar falar, o fingir que não ouviu, a mudança súbita de assunto crônica, e o encurtamento estratégico do tempo ( o querido " time management").

Grato ao Leitor!

O que une e o que separa a filosofia

Quanto ao problema da unidade histórica do saber, o que une os filósofos é mais importante que o que os separa. No entanto, o conhecimento do que os realmente separa ajuda a percebermos o que de fato os une. Nas universidades, o que une os filósofos é, em geral, apenas a imanência e interesse burocrático mesmos, e a ciência da separação recebe um culto absoluto. Pois a percepção da unidade entre pensamentos filosóficos diferentes requer uma meditação de si mesmo pessoalmente  sob o peso desta unidade, isto é, de captar o mundo e a si de modo discernido e indiscernido na própria individualidade, não apenas da consciência, mas da pessoa.

Essa individualidade é, pela consciência, análoga ao que une, e pela pessoa ao que separa; porém, não como separação arbitrária da imanência burocrática, mas como constituída pela excessão como realidade primeira do sentido humano junto, paradoxalmente, à unidade dos saberes e das coisas como poder analógico do ser mesmo.

O conhecimento de si lança um projeto progressivo. Tal síntese progressiva de idéias só através da ocupação consigo mesmo torna-se de fato saber. Pois saber é sempre saber atual e sobretudo do saber mesmo, isto é, do saber em sentido projetual, ideal. Ma medida em que é atual, ocupa-se de si sob formas que não são-lhe interiores, e assim a ocupação de si suspende, e por outro lado supera, a progressão histórica do projeto do conhecimento de si como apoderamento do mundo num si que não percebe-se como o si própria da pessoa, sua relação de consciência e participação integral consigo pelas coisas.

Na ocupação de si, e no conhecimento de si, dividem-se duas categorias existenciais da esperiência da historicidade do tempo humano: por um lado ocupa-se paradoxalmente  da unidade análoga  sob forma da excessão; por outro, conhece-se a si mesmo lançando pela história um projeto que desdobra-se apenas por diferença, e assim por oposição, o que possibilita  não apenas dialética , mas ruptura, e ainda coexistência paradoxal.

A complementação das categorias do projeto historizador filosófico , a da auto-ocupação e auto-conhecimento, constitui o sentido potencial  das oposições que encontram-se no conjunto, maior que o daquelas, das segregações. Pois isto adequa a forma  de  ser para si da auto-ocupação com a forma de ser para outro assumida pelo princípio do auto conhecimento - este, não como na origem de si na consciência, mas como alienação imanente aos aspectos concretos do projeto historicizador.

Thursday, January 21, 2016

Lógica e Retórica do Sentido ( Projeto e Reflexão Central)

     O modo discursivo da categoria que chamo " lógica do sentido", consiste em pertencer ao destino fáustico de empurecer-se contra o uso inconsciente ( isto é, por outro lado, espontâneo) das figuras retóricas ( as chamadas figuras de linguagem); entre tantas, da metáfora, e , em especial, da mais perigosamente sutil de todas, da metonímia, que, já observado por Aristóteles ( ver "Tópicos", p.ex), consiste em tomar como substância qualquer predicado possível a uma substância, e no pior dos casos, deduzir a partir de predicados contingentes algo essencial a uma substância, atribuindo, por fim, verdades relativas da parte a perenidade absoluta do todo ( a qual, em geral, tendem os conceitos) . Esta tarefa lógica poderia ser considerada, usando-me de uma expressão insólita de  Deleuze, uma "conquista geográfia de terreno", limpando-o, e assim estabelecendo a possibilidade de um discurso baseado em essências e inferências.  

     A pergunta que salienta-se é: o que é mais fácil; primeiro, estabelecer e dominar  a arte de uma retórica do sentido; segundo, levar a cabo a lógica do sentido, supondo que a técnica desta condiciona a arte daquela; ou , em terceiro lugar, entender a categorialidade filosófica de ambos discursos, assumindo dois ideais concomitantes e de regulação?

    Parece que um discurso puramente lógico, isto é, onde os sujeitos da discussão assumem uma univocidade semântica que os relacione diretamente a suas essencias, conformando a eles o uso correto dos predicados, não possui uma forca retórica que seja proporcional a necessidade de autocomunicação das verdades possíveis desta discussão, na medida em que a tarefa lógica pressupõe um nivelamento geral da comunicação que é privado aos colegas de uma discussão. Ensinar um conceito seria aqui a tentativa paradoxal de tornar público, ou mais exatamente, publicável, algo que apenas como negação e privação dos usos retóricos espontâneos é ativo em si mesmo.

   O uso retórico parece porém persistir nas tentativas lógicas e ao redor de suas essencializações mesmas.  Contudo tais tentativas parecem também, por outro lado, determinar usos e significados de forma tal, que justamente por isto as figuras retóricas obteriam da pessoa seu brilho e contraste, em uma palavra, sua auto-consciência. 
 
  A partir disto pode ser considerado que Lógica do Sentido, e Retórica do Sentido, como categorias ou áreas gerais da formação de sentido,  em relação às quais a Filosofia goza de uma autonomia incomparável e de uma influência, sobretudo quanto à intenção, estrutural, compõem nada mais que uma dialética complementar do sentido próprio enquanto tal.

 Uma vez não consistindo nem dialética, nem complementaridade nesta oposição, então seria de se investigar um paradoxo geral das categorias formadoras de sentido; o que parece, contudo, um empreendimento que por sua vez superusa (allio modo abusa) uma destas categorias, já que a formulação de um paradoxo, e seu estabelecimento como entidade ontológica, pressupçõe uma limpeza da (1) idiossincrasia dos usos retóricos e (2)  das figuras de linguagem e equivocações da linguagem que são quase que imanentes a sua estrutura, e por isso dificilmente perceptíveis. 

  A formulação de um paradoxo alternativo à complementariedade dialética das duas categorias gerais do sentido, pressupõe desativar a retórica do sentido, a qual, contudo, por sua vez, e por seu caráter categorial - como pretendo mostrar - é por necessidade ontológica sempre coexistente. Seria possível livrá-la da atenção, em uma espécie de epokhé, ou de redução, mas não desativá-la.

 A falta de percepção da categorialidade e, portanto,  coexistência formal,  da retórica do sentido e da lógica do sentido como princípios da formação de sentido, leva por um lado a uma retorização e , por outro, a uma logicização do mesmo. Melhor entendido: leva a uma retorização insconsciente dos valores lógicos, e por outro lado, a uma logicização arbitrária ( isto é, intencional, mas não consciente) de valores retóricos. Pois a ausência de um reconhecimento desta categorialidade tende a ser suplementada pela substancialização metonímica.

 Subjacente a essa reflexão fica patente, é claro, uma dúvida em respeito ao posicionamento ontológico destas categorias. Pois parece que elas são categorias artificias, de certo modo  "construtos", e não pertenças do mundo tal como o recebemos originalmente. Isto é, parece que conceitos criados, ou descobertos, podem ser intencionalmente erguidos ao estatuto de "coordenadores" de conceitos, os quais não são coordenados imanentemente por nada, a não ser, de certo modo, por quem os pensa. 

 Sendo as categorias da formação de sentido algo substancialmente diferente da ordem normal dos conceitos e dos dicursos em sua aplicação, então elas parecem "resultado" ou (1) delas mesmas, e não novamente derivações conceituais ( isto é, paradoxalmente),  ou (2) duma formação de sentido de ordem superior, ou ainda de ambos.





Tuesday, January 19, 2016

Palavra / Conceito

Algumas pessoas acham que, ao explicar o significado de uma palavra - mais provável com palavras esquecidas por falta de leitura, por falta de contar ou ouvir histórias - estão reconstituindo à frente de seus alunos um conceito. Disto, negando a complexidade contemporânea de quase todo conceito, parte uma proliferação absurda de "conceitos".  E logo, de matérias, cursos, e de faculdades universitárias mesmo.

Friday, January 1, 2016

Texto / Modos de Persuasão

Há dois tipos de textos perigosos. Um é o "claro demais". Ele confunde o leitor ao substituir a validade lógica pela clareza gramatical. Por exemplo: alguns guia-mágicos de investimento. O outro é o "obscuro demais". Ele permite ao leitor enganar a si mesmo ao ler, pois o escritor mesmo se escondeu ao escrever, ou por que o leitor mesmo não atinge os conceitos e a metalinguagem do texto ( sua terminologia e modo de resumir). Estes são em geral textos religiosos, filosóficos, e poéticos.

A clareza, ou a obscuridade, do material da comunicação ( a gramática como asseguradora do possível da comunicação, e a gramática implícita da metalinguagem, como da ordem de um funcionamento mais variável e mental)  não podem ser confundidas com a clareza da verdade, ou obscuridade da mentira.

O aforismo, por outro lado - que tenta sempre limitar-se a um só pensamento - e sobretudo ao não agarrar ou prender o leitor, não faz mais que tentar direcionar o olhar do leitor aos conteúdos exteriores e interiores de sua própria observação...

Devemos ser gratos pelo Ser estar sendo e funcionando a todo momento, sem te cobrar nada em troca.Sentir isto é uma forma de afinar e vibra...