Sunday, December 31, 2017

Autodidatismo na Internet

 Nao só sites especializados, mas mesmo Wikipedia e Youtube estao oferecendo materiais cada vez mais sérios, atraves do quais uma mente sistematica e criativa pode tirar enorme proveito. A partir deles pode-se ir do básico ao avancado em várias coisas, sem perder tempo com obediencia à falsas autoridades e demais picuinhas. Isto vale, no entanto, sobretudo aos sites e videos em lingua inglesa, onde a competicao é com isso mundial. Os dias da Universidade como ginásio charlatão estao contados: logo lhe será colocado de volta e definitivamente a tarefa coletiva e elitária de pesquisar e amar a verdade, apenas.

Tuesday, December 26, 2017

Cristo como História e Mito

«  Pai nosso que estais nos céus, não quero saber nada dos astros no Paraíso, e tenho raiva de quem o quer » (...)

Se Cristo é um milagre este milagre está numa sincronia evidente com elementos pré-cristãos, principalmente com as divisoes astrológicas do tempo. No entanto, sendo os relatos deste milagre tão pobres quanto a estrutura local e espacial de sua realidade, então se tem muita razão ao supor-se que tal milagre é de fato "construído" - o que no entanto não significa uma abstenção do sagrado nem da verdade. Construir aqui significa Sinnbildung, fazer sentido. Isto é,  o processo no qual dizer a verdade significa dizê-la novamente, na hora certa, e ainda, doutro modo, assim dando-lhe sentido. Importante, contudo, é perceber que neste constructo estão ao menos três coisas: as mãos do obreiro, a materia-prima, e a impressão geral. Ora, nada  nesta obra tira a possiblidade de haver nela resíduos inconvenientes, pois este encontra-se entre a matéria-prima ( fatos, pensamentos) e a idéia a que atém-se, i.e. a impressão geral que cria um símbolo para além dos fatos, mais forte que estes.


Nota ao Olavo de Carvalho ( Catequismo e Astrologia)

Olavo de Carvalho, por defender o catolicismo, deve explicação quanto a contrariar o Catequismo ao assumir o bem e utilidade da Astrologia. Além disso, defensor de um realismo radical no que diz respeito à existencia de milagres, deve prestar contas quanto a tese do Jesus mítico, que fica endossada exatamente a partir do momento em que abre-se uma brecha pra perspectiva astrológica; pois através desta é que Cristo perde seu caráter historiográfico, prevalecendo o simbólico: ora, Cristo seria o Sol, o "Sol Invicto" dos romanos etc. Se Olavo o fez, deixe-me saber.
Exatamente num momento de fraqueza é que o poderoso mostra-se efetivamente mais forte, usando ou abusando do poder, recorrendo ao movimento mais sutil. 

O submetido torna-se forte apenas por um momento, senão apenas nos refúgios mais ansiosos de sua imaginação. Sua fraqueza é perigar em arriscar-se como de repente forte demais.

Por outro lado, a do que o submete consiste no auto-controle como controle do aumento de posse.

 Eis assim cada qual com uma porção de sua arte bélica:

 o sangue dos movimentos bruscos versus o sufocamento dos movimentos finos.

Saturday, December 16, 2017

Wednesday, December 13, 2017

Um filósofo tem que entender o seguinte: que um esforço severo por coerência - e a coerência mais severa é a entre o abstrato e o concreto - acaba riscando por abismos e absurdos às vezes incontornáveis; e que, no entanto,  ceder de antemão ao caos, ao abismo, ao absurdo, é por sua vez uma incoerência evidente!

Monday, December 11, 2017

A despeito de toda arte do silêncio, trata-se entre os seres humanos sobretudo de um ato de fala que faça sentido (Sinnvoller Sprechakt).
A partir de certo ponto falar muito pode significar pensar pouco.


Sunday, December 3, 2017

Uma música que não chama a atenção para si é banal; uma música que mesmo a um ouvinte formado em música  exige atenção demais é pedante.
Se és “mente aberta”, não pense que já por isso te livraste de ser aberto pra qualquer burrice.

Friday, December 1, 2017

Da Felicidade Só ( Ou pureza triste)

A experiência do saber é uma experiência da verdade, isto é, da realidade, e ainda, da felicidade que é basear-se na realidade, ou seja, na fonte de toda força.

Não há, a propósito, força que seja tua.

Mas há ainda uma angústia na solidão desta felicidade: se é verdade que a sabedoria prefere ocultar-se ao indíviduo, pois só raramente ele é suficientemente uno, ou suficientemente plural para a conceber, mais verdadeiro ainda é que ela oculte-se a um grupo de indivíduos; pois como grupo raramente são indivíduos, e como indivíduos raramente um grupo.

Este duplo é que permite-nos pensar a verdade como uma ordem de grandeza independente da felicidade, mas que a ela reserva implicações substanciais. Ante tais implicações, porém, é dificil não uni-las novamente como aspectos da mesma essência, que tornam-se um condição do outro.

Por um lado o sábio infeliz é digno de certa dúvida legítima; por outro a felicidade do sábio seria algo tão privado que facilmente, por ironia, converteria-se em angústia: sua relação com o mundo, do ponto de vista do mundo, resumiria-se ao brilho de seu sorriso, ou a prova de sua utilidade. Mas o sorriso, a irradiação, não são suficientes contra a solidão; e a utilidade depende dos fins, que ao sábio e ao mundo não são sempre comuns. Suspenso permanece o compartilhamento da felicidade enquanto sentido íntimo desta, sua essência como ato e externalização da própria externalidade, mas sobretudo enquanto compartilhamento cooperativo da maravilha da mesma realidade, sem a qual esta não poderia ser várias.

A ponte mais direta para o que inicialmente seria uma antinomia da solidão da sabedoria, ou da angústia da felicidade privada, é por vezes o pleonasmo de determinada ação realmente exterior, uma que imprima-se nas outras almas por sua própria evidência, exatamente por uma força que não é sua força, e sem aguardar ou depender da reflexão  - mas de modo algum contra esta.

O sentido do falar é o ouvir, mas ouvir não significa imediatamente pensar; por isso uma determinada ação pode provocar muito mais a necessidade de certo pensamento que um simples discurso.

Que ação é esta?

(...)

Não é absolutamente insensato que algo bem dito não possa ser uma poderosa ação. Pois afinal, dizer bem é também dizer na hora certa.  Mas de qualquer modo, permanece a ação como critério, pois nela está a força, e nesta o ato contínuo do que é real, e a propósito, atual exclusivamente por meios próprios ( não teus ).

Seja qual for a especificidade do ato, trata-se não de autonomia, mas de conspiração com o ser a cada instante sob a autonomia, a saber, através do aspecto mais real deste, cuja solidez e concretude requerem a mais fina das abstrações, mas ainda a mais fina das sensibilidades.  

O ato deve provocar a sensibilidade doutrem, e esta causará eventualmente um novo pensamento, uma nova percepção, e assim redispor a estrutura da experiência, em uma palavra, a sensibilidade.
 Se alguém disse que filosofia é captar o real na unidade da consciência, sabedoria seria a arte de agir para e a partir desta unidade, sem porém angustiar-se na solidão da própria pureza; mas tampouco sem esquecer que raramente será pela pureza que um ser humano relacionar-se-á ao outro. Perante a arte de não prescrevê-la invirtuosamente ao próximo, fácil é a virtude. O puro, enfim, dá-se ao indivíduo, o impuro ao coletivo: neste sentido, conquistar a guarda de uma fortaleza não exclui enfrentar riscos antecedentes: 

certo contato com os outros leva-nos de volta a um contato mais profundo conosco; este pode levar-nos ao real, separando-nos, contudo de alguém quem amamos tanto quanto a verdade; no entanto, justamente  o contato com os outros após o consigo é o sentido inicial deste: ameaça maior, portanto, seria não a dos riscos impuros, mas a da pureza contra ela própria. 

Tais sentimentos de pureza são em parte nobres mas outros perigosamente viscosos. Eles cedem, no entanto, ao critério da ação que os desmentirá, cada qual em sua falsa nuance:  uma ação conspiradora deve considerar as várias ordens do ser, sobretudo as da alteridade, e nesta principalmente a natural e a humana. 

Entre ambas entrelaçam-se os riscos impuros do compartilhamento, estilhaços de toda criação que preze-se por sua unidade, isto é, dever cosmológico da ação. 

Impossível saltar do puro ao puro.

É preciso passar o anel no fogo, pois assim prova-se o ouro.






Pensar antes de falar é bom; pensar durante a fala, desconfiando de sua espontaneidade, é enlouquecedor. 

Pois as frases, infelizmente, não são nem tridimensionais ( não podem apontar a direções difusas sem perder o sentido) nem capazes de tocar o infinito - são apenas provocadas por este.

 Pensar demais, dentro da própria frase, é abusar dos limites da expressão. E nada mais cabido ao pensamento sadio que pensar o já expresso, não o inexpresso, e jamais o inexprimível - seu delírio.

Mas até que ponto saúde, ante à verdade a que se deve, é valor?

Devemos ser gratos pelo Ser estar sendo e funcionando a todo momento, sem te cobrar nada em troca.Sentir isto é uma forma de afinar e vibra...