Tuesday, January 31, 2012

X

Outro exemplo de crítica imanente: alguém vestido de formiga critica o formigueiro, não obstante ser-lhe impossível à sua vez deixar de ser peçonhento...

Esse ambiente narcísico aqui é tentador. À despeito das fichas de qualificação as quais o FB dispõe aos jogadores da escala darwiniana da "evolução" e da "adaptação", e já que alguns postam toda a própria intimidade em mil imagens publicadas entre 2000 "amigos" (sim, alguns tem 2000 mil, por que não?!) eu, na qualidade paradoxal ao mesmo tempo de crítico e usuário - ou seja, de hipócrita renegado - o faço tudo isso igualmente e sem rodeio em palavras mesmo... Nem sei como participar da roda. O jogo é ora um jogo de promoção do "eu", ora um jogo do consumo e propagação de resíduos culturais de rapida absorção mental, meros estimulantes analgésicos, na linha mesmo da fluxotina. Longe dos olhos de quem só vive na visão, alguns salvam-se na rara comunidade do diálogo aproximador : Alías, convido todos às auto-estatísticas em psicolingüistica, relacionar o próprio uso da fala à prazerosa autoimagem esculpida - hoje com as melhores ferramentas - nos olhares alheios... Melhor que espelho.

(Escrito originalmente do FB para cá.)

Monday, January 30, 2012

IX

Que cada aforisma seja a mais fiel expressão de minha e de toda incompletude; uma incompletude, espera-se, análoga à breve duração de captar um instante da experiência em fino conceito, ou em fértil metáfora; incompletude análoga a uma Existência transcendente que sofresse em cada ser uma breve aparência de vida.

[E cada dor no instante é sofrida eternamente: pois revela-se e acontece na eternidade do espírito.

VIII

De vez enquando escrevo fora de lá algo que remete a lá mesmo, e o levo de forma suicida para seu anti-lugar, isto é, lá. É a chamada crítica à partir de dentro,aquela com que Adorno a tudo adornava... Vejamos e acompanhemos bem cada letra destes assobios!:

O facebook e o chat perdem para o século XIX o que era ao mesmo tempo a patologia e o auge da amizade: o compartilhamento do lírico através de cartas.

Por outro lado, aquele século não teve a graça de disfarçar sua fraquezas com a experiência mais chã da existência, isto é,  usar ferramentas de linguagem e comunicação infinitas para compartilhar apenas o vazio e o tédio entre a amizade, isso que é expresso por seu maior sintoma: um  compartilhamento prolíferoso de besteiras.

Sunday, January 29, 2012

VII

Como poderíamos contínuar, Srta.? Não há forma mais elegante do que uma frase pequena, em forma interrogativa, e de vasta sinonímia...
Pois bem. Acredito que o possível é tão infinito que ele esgota imediatamente, com um único olhar,  o ser que o vislumbra. Pois no homem a possibilidade é antes de tudo - isto é, de ser condição da metafísica - um complexo de afetos e, portanto, um complexo de valores . Num homem sozinho, e em plena interioridade ante a vastidão do Firmamento,porém, o possível converte-se em impossível à luz do absoluto e do sublime; mas à luz do absoluto - a liberdade-  é que isto - a possibilidade -  verte-se em realidade entre os homems, embora sua angústia será sempre o caráter virtual de toda possibilidade.  Ora, a impossibilidade do esgotamento do possível e sua angústia é o preço fáustico da liberdade.

Friday, January 27, 2012

VI

 Na vida a única coisa a se perder será a grande coisa que se teria ganhado, isto é, perder o que de fato não havia! Que coisa...

Thursday, January 26, 2012

V. "O filósofo nu. Ai que coisa ridícula..."







Kierkegaard já dizia: ai de quem revoga a interioridade ante ao geral ! O demoníaco é a zombaria!. H.Arendt*: o Eu, quando é ele mesmo, é justamente o idiota. Apoiado por Nietzsche**: Jesus teve a corajem de ser idiota...  E a excêntrica interpretação de Camus***: Ao saber Jesus que ele era o culpado, suicidou-se... e só assim foi ele-mesmo. Essa primeira é tão absurda e verossímil ao mesmo tempo, que me faz rir de pavor.




*  Em escrito sobre Maquiavel
** Em um aforisma
*** A Queda

Saturday, January 21, 2012

IV

Na interdisciplinariedade estão as possibilidades analógicas, e portanto, a profundidade e a penetração
do espírito em alguma unidade conceitual.

III

Das Töd in die Ehe, bedeutet das Töd in die Selbstsucht durch das Andere.

II

Penso que talvez seja impossível uma verdadeira interdisciplinariedade nos campos acadêmicos, pelo menos uma que valorize uma erudição variada e dasalienante.

A filosofia deve ser interdisciplinar, como na época em que Aristóteles, ou Eurípedes, dominavam vários outros conhecimentos.  É preciso ter autonomia filósófica em relação à academia, mas sem esquecer desta como ginástica social do filósofo em seu tempo.  Depois de morto, tanto faz: o que fará diferença é a obra escrita e a vida vivida.


Monday, January 16, 2012

I

A questão consiste em saber (A) se em matéria de ideologias ou filosofias somos contra a coisa (1) na coisa ou (2)  fora da coisa.
E caso ainda (3) se o fazemos através da coisa.

Isto é, surge um problema paralelo(B): que direito tem as preposições de espacializar os territórios abstratos?


(Nossa Senhora...)

Saturday, January 14, 2012

IX

"Doce o precipício de escorregar pelo outro!
Doce cólica de melancolia.
Doce tempo em que abre-se ao sono!
Doce volta pela neblina.
  Ai ânsia de beijos,
  Ai ânsia de alguém!"

Disso faz teus poemas, homem reverso;
mas neles esperes ninguém.

VIII

Esses cantos tão belos...
Até o vento, sedento, perphia às vezes os túríbulos eólicos de meu pífano e os entoa em suas harmonias.

VII

‎"-O que escreves?" Perguntaram os cisnes pela cauda do pavão.
" -Mozaicos Polissêmicos!"- Cantou este último.

VI


‎"
Convenhamos nós poetas, virtuais solitários;
Wittgenstein...Wittgensteni...Iwttgensteni... Iwttgensnite...
O que este homem diria do joguinho de linguagem chamado Facebook?
Real Playing Game, rpg?
"

Sunday, January 8, 2012

V

I .Ah se a página  não virasse...

Na verdade , só ambigüamente é dito "eu te amo!"!; sempre tomando em vista a possibilidade de experiências com o outro, e - ainda que de fato alguém, por seu turno, o receba - tal nunca é dito para o outro efetivamente, do ponto de vista de quem julga estar amando . (Pois descobrir-se-ia  este outro, na dupla qualidade de outro e de amado, só quando o coração passasse um rodeio nos conteúdos fixos da consciência e os trapassasse antes mesmo de refletirem-se nas possibilidades pretendendo realização: a natureza da alteridade é recusar a identidade e ser hostil à concepção). Muito bem. Naquela condição foi dito "eu te amo!". Mas chega hora, em que este outro - isto é, qualquer um dos dois- têm um lance de espiritualidade e de sentimento de si e ciúme daquela relação erótica do apaixonado consigo próprio por intermédio do fetiche que faz do amante;  o outro reividica sua identidade só para si, quer-se inobjetivável, e então tudo rompe.
 Isso é o segredo de toda melancolia pós-romance, e Pós-Romântica, que no entanto é um traço de consciência de uma melancolia pelo sentido: Esvai-se pelas imagens a certeza de que existimos em nós-mesmos; pois quando assim apaixonados romanceamos, vivemos intensamente o presente do futuro, isto é, a promessa de um presente! mas depois de romanceado... vivêmo-lo como passado, isto é, como um presente não cumprido.
(...)
Ai...esta melancolia é uma angústia curada com objetivos ontológicamente tênues! - realidades sim inquestionáveis e narcóticas do coração passivo... mas sintomas fatais do sujeito expulso de seu presente.

II .  Mas se a página virar...


Esta melancolia suicída, procura desesperadamente para si uma cura no sexo; e com esse vitalismo,  ex Darwin  prestou-se alguns narcóticos aos niilistas, renovou-se e justificou-se uma melodiosa visão capitalista da sedução, encabeçada pelo duo cinema-música , que ajudaram de modo panteônico a radicalizar  e universalisar   na fórmula de um erotismo funcional aquele paradigma difundido em Don Giovanni,  mas criticado por K.  Pois bem...de repente a melancolia acorda de sua dor de cotuvelo fim-de-novecento e faz propaganda de um sexualismo assim como quem fizesse propaganda da fome que deviamos sentir todos os dias !- sim, procura uma cura espiritual - qualquer suposto enquadrado na fórmula romântica do Ideal-   em algo não-espiritual; propagandas de um sexualismo advento da emergência desesperada de esgotar-se* aquela possibilidade de sentido em que a melancolia angustiava , este qual passa a desempenhar um papel hiperativo e desesperado nestas tentativas frustradas - pois egoistas! -de reconstituição da "saúde" - sim, frustradas, dado que  'saúde' trata de um conceito global.
Resultado: suicidou-se a melancolia em seu próprio gozo salvatório, anulou-se o devaneio totalizante e assim perderam-se por aí espalhados os restos de um falso-sentido: este único vestígio de um sentido.

Bom, agora eu gostaria de me esconder nos espaços brancos desses dois parágrafos anteriores e espiar o caro leitor constatar em si mesmo o absurdo do estatuto erótico sob o qual esse par pretende  ainda se casar, Amor e Sexualidade !

IV

Medite-se sem parar no seguinte:

Tão dito 'Cristo', Cristo é maldito. 

Pronto? Então parou-se de meditar... !
Que signo mais ressurge ainda depois de trivializado, depois de tão remexido e confundido? Que sentido faz , ainda, um cristianismo ainda preponderante no universo do discurso?

E ainda, não obstante, já dizia um escritor dinamarquês.:
Nada mais pode ser recuperado, fora da fonte da repetição...

III

O esforço ascético é não deixar o gênero humano sucumbir. Pode  não significar propriamente uma superação otimista do humano, e sim uma resistência contra o anti-humano.

II

O começo do ano é um retorno. O calendário cíclico é a melhor lembrança contra o falso progresso no temporal. Angústia é esse confllito do ser finito em conflito com a eternidade cíclica do calendário:

 A fé, espera-se, quebra todos os relógios...
 E tanto quanto a ela, seria preciso tê-los no entanto;
 Inteiros e perfeitos, antes de quebrá-los.

Saturday, January 7, 2012

I

Gib mir die Gelassenheit, Dinge hinzunehmen,
die ich nicht ändern kann;
gib mir den Mut, die Dinge zu ändern,
die ich ändern kann;
und gib mir die Weisheit, das eine vom andern zu unterscheiden!




(autor desconhecido)

Ao diabo com as postagens de blogs fúteis; que a título da diversão e do descompromisso são negligentes e preconceituosos em relação a questões sérias. Isso só reve-la a ausência do sentido do cômico, e analogamente do trágico, em nossos meios de co-futilização. Todo ser humano hoje deve estar tão afastado das coisas e tão falsamente centrado em si que até uma piadinha de 30 anos atrás já lhe
 é incompreensível; pior fosse, p.ex, uma piada de Becket. Ora, todo pequeno interesse já é responsável por multiplicar no mundo ou não um estado de coisas, e dele nasce grandes investimentos concretos, na direção que for. Contudo a situação é que desde que trate de idéias, e não do sensorial que cerca essa nossa animalidade- tão preconizada por Darwin -a coisa já corre o risco de ser descartada por esse fascismo anti-cultura. Ainda que na aparente qualidade de chatófilo, repito com toda a dicção: ao diabo com estas postagens!

Friday, January 6, 2012

X

A melancolia é uma tonalidade negativa do sentimento, com o especial de envolver consigo uma promessa ou uma recordação de um prazer infinito e inalcançavel.  A melancolia determina a angústia, o ser coloca-se não frente uma possibilidade vaga, mas frente a uma mecha de saudade e recordação; nela o próprio presente é vivido já na recordação.

Um de vários exemplos disto, a famosa serenata de Schubert; a tonalidade menor envolve quase que ambiguamente a maior , a qual vacila sobre aquela mas que  firma-se no final. É a alegria vislumbrada já no desânimo, ou o desânimo que vislumbra uma alegria que não tem forças para alcançar. Mais propriamente, seria uma peça perfeita para aquele sujeito kierkegaardiano de A Repetição. 

Thursday, January 5, 2012

IX

Ao proferir o oráculo, ele guardou a verdade para si. E ao guardar a verdade para si, mostrou-a
 através da própria conduta e do próprio exemplo, o qual mostrava-se misticamente em ressonância com harmonias de cordas universais: isto é, mostrou que a verdade é a verdade de si em uma Ordem.:

O asceta hermético cala-se. Os gênios - e nós acadêmicos,bajuladores de gênios- , inquietos, falam e gritam; mudos,proclamam e reclamam hiperativamente mesmo depois de roucos terem perdido a voz. Entre eles a destreza do pensador aforístico, do anti-filósofo: passa por diplomata, constrói terrenos sofísticos sob medida, e sua habilidade vital é saltar os abismos entre aqueles precedentes.

VIII

Diferente de certos livros anafóricos e que implodem em si mesmos, o aforisma tensiona a interpretação e explode o significado para fora de si, retira-lhe o envólcro e o devolve à vida. No estado idílico em que se encontra o discurso, isto é, ilhado, o preço pago ganha a ambigüidade metafórica de todos os horizontes.

VII

-A vida é um envelhecimento,e vai rumo à caveira. É tudo questão de enriquecer o espírito contra a pobreza da velhice, nossa e do próximo. Permanece, porém, só aquilo que na vida , entretanto, nunca fôra vida de fato.

VI

O aforismo fora a sentença do sábio, mas agora é sobretudo o gênero do desespero daquele outrora sábio. A eternidade é nele perdida e revogada na impaciência do agonizante. Em meio à febre do pensar o caminho não é mais sequer planejado, não o pode ser. Os estilhaços são a única realidade, e a verdade é deles fazer-se o mais belo e kaleidoscópico mozáico. A única verdade é dar testemunho de si na situação do estilhaçamento. É indicar o alvo com o próprio indicador, e não com o da mão de outrem. E isto apenas ao que crê, ao próximo. Ao exterior não há nada mais a ser provado no terreno do substancial, e nem que seja preciso sê-lo. O sujeito que o prove em si, o arco da morte e do envelhecimento abre-se igual para todos. O que garantirá a autenticidade deste testemunho será fazê-lo esquecido do mundo e na grandeza de enfrentar o fatídico erguido contra o olhar infinito e temível de Cristo.

O aforismo é o pensamento que anda nu na propria redoma, e que de seu refúgio encalorado só exterioriza durante a necessidade visceral, pois sofre demasiado de frio.
O aforismo é um grito, e um grito que não se prolonga em capítulos: sua forte intensidade é breve mas deve ecoar eternamente nas cavernas do espírito, e tanto mais quanto mais imensas forem.

VII

Ele só tem rudimentos de filosofia. E na medida em que sejam bons,na medidade em que sejam bem tratados e bem escolhidos, escolhidos com o coração, são ainda - contra todas as objeções- rudimentos do infinito.
E conforme sejam rudimentos do infinito, são provas também da fertilidade do filosófico, da fertilidade de um verso que se multiplicou, se descaracterizou e se complexou.

Ora,o filósofico deve ainda hoje, e, justamente, apesar  da História, pagar seus tributos com  a ordem mítico-poética do mundo e tornar o indivíduo fértil e sagrado como a terra, até que seja verificado aquele solo fértil onde,  como disse aquele cristão, é que semear-se-á devidamente a fé . Caso contrário, de que valeria um extenso conteúdo, mas tal que torna-se o homem frio e estéril? E no entanto, porém, não mal-dizemos nem desmerecemos um extenso conteúdo.

A prova de que se compreendeu filosofia é este sentimento ao mesmo tempo arrogante e humilde de uma autonomia do pensar: esta autonomia pode cegar,e ser arrogante, ou humilhar-se humildemente frente o sublime da autoconsciência infinitamente inquieta e insaciada de si mesma. O que compreendeu algo, não conseguiu deixar de pensar imediatamente no sentimento de responsabilidade e seriedade de sua parte em relação ao conteúdo, não conseguiu deixar de tomar parte no conteúdo, ainda que sua parte nele seja menor que a dos grandes filósofos, que a dos grandes cientistas, que a de qualquer celebridade de gênio.

A fertilidade própria da filosofia, e do pensamento abrangente e totalizante em geral, é não uma criação de bajuladores de textos e filósofos, mas uma criação de criadores, sejam eles na quantidade e na especificidade, na qualidade e na abrangência, sejam eles nos defeitos e inabilidades que forem . O que não cria, o que espera o outro dar o passo adiante, este corre o risco de ser irresponsável,de ser o inconseqüente, e de remexer com mão suja as feridas do pensamento.Não o criador.

Não, o criador sente-se ligado ao que faz como que por uma só pele, e às conseqüencias dos próprios filhos responde com seriedade, até mesmo a relação de qualquer erro com os mesmos é baseada no respeito e no profundo arrependimento.

Cada rudimento filosófico é infinitamente potencial, na medida em que sua possibilidade é fertilizada e semeada por uma carência de infinito e de sentido.Nele, pois, pensar é criar vias de acesso a si-mesmo e concomitantemente, à uma realidade exuberante.

VI

O artista não deve ver sua arte como um trabalho que dá prazer, mas inversamente, como
um prazer cuja consequëncia é muito trabalho. Se o artista coloca o trabalho como anterior ao
prazer, pode perder em sua alienação inerente o senso da idéia, ou do belo, e assim padecer no próprio trabalho. Só um prazer estético anterior e original, que antecede à obra e já na forma de idéia,é que consegue no amor que suscita, impulsionar ao trabalho com as forças e perfeições próprias de qualquer compromisso com o infinito.

Fora o vigor sadio do júbilo, que surge no coração de um amador especial, aquele profissionalmente capaz, e aquele júbilo referido em certas peças de Bach, p.ex., a única coisa que a doença moderna produziria com vigor, seria um apelo à sua própria cura - tal como o figurou bem o expressionismo de Webern, e por conseguinte as formas radicais de saturação e esterilização da música em arte sonora, como nos compositores experimentais.

Neste sentido, na categoria do "amador" é que estaria hoje o estético, e que só tomando esta como pressuposto poder-se-ia entender apropriadamente a contradição que é o "artista profissional", dado a problemática capitalista e anti-estética por excelência do "profissional"*.

* Ora,a impossibilidade do artista autêntico na atualidade é abordada por muitor autores. Foi prenunciada , por exemplo, por Hegel, em suas lições de Estética, e constatada, ainda como exemplo, por S. Beauvoir, tal em "O Pensamento de Direita, Hoje", no breve capítulo referido à arte.)

V

É como se relatasse de modo radical cada microprocesso da alma, a nuance de cada movimento psicológico de frente para um ambiente angustiante: o expressionismo.

IV

Enquanto estamos vivos dialogamos com vultos, e quando mortos, talvez, com pessoas que se esforçam por tornarem-se vivas o suficiente para nos compreender

Monday, January 2, 2012

III

Conseqüencia de um homem desenvolto do mítico, a filosofia nasceu em verso. Até que ponto não é ela ainda um genêro literário, e propriamente um "filosofês"? Aonde que sentimos seu discurso ferir a realidade, senão por um pathos proporcionado por um belo e bem jogado xadrez da razão? Não é em filosofia a verdade uma ratio devido ao estado de espírito, a mesma que na obra de arte é beleza?

II

Do ponto de vista da profissão, a realização do fim pede uma comparação exterior. Do ponto de vista da auto-realização, a realização não pede nenhuma comparação, fora a comparação interior. O que significa, pois, uma auto-realização na profissão?

O Alpianista - Uma paráfrase para a questão do si-mesmo.


Há profissionais que se levam a sério na atividade, outros não.
Se você é alguém que leva a sério a si mesmo e sente-se de vez em quando afetado - por exemplo, enquanto pianista- por pianistas melhores que você e faz com isso diversas chacotas de si proprio, por mais que tente algo contra; se você for, como eu, um destes seres autofágicos, com compromissos infinitos consigo próprio e que correm constante risco de vida devido a uma força tal como aquela que empurra certos alpinistas para o pico, sem que estes usem sequer aparelhos adequados para isto, se você for tudo isto então me acompannhe no seguinte:

(Alegorizo qualquer profissão.)Imagine um super-pianista, chamado Player, que tem todos o incríveis e extraordinários poderes que um artista possa almejar. Ele toca, por exemplo, todo o repertório pianistíco a qualquer momento:repertório solo, camerístico, orquestral;e tanto em condições favoráveis e desfavoráveis sua inspiração permanece intocada, tal como se vivesse acima mesmo do Olimpo. Ele agrada qualquer juiz. Ele é solicitado por todas as gravadoras. É apreciado por todos os críticos e dele até ao público mais leigo qualquer obra soa facilmente compreensível. Além disso é bonito e tem boa aparência no palco. Sua leitura a primeira vista é igualmente impecável,já que o aprendeu antes mesmo de sua alfabetização: sempre depois do café-da-mannhã pega uma partitura de sua biblioteca e lê-a com enorme gozo e emoção. Não precisa de muito tempo para renovar o repertório e como seu estudo abstém de muita repetição, está com a cabeça sempre tranqüila para outras atividades , como ler um livro e paquerar. Claro, ao piano ele chega sempre saudável e disposto, com mãos invulneráveis. Ora, o Player é, de fato, exepcional, e por isso todos os querem em sua sala. Se não gostamos, por exemplo, do modo que ele toca alguma peça, ele muda conforme o público, e se adapta tão bem aos nichos culturais mais diversos que Darwin o elogiaria muito se aqui o assistisse. Enfim, não seria difícil extender a descrição de suas habilidades!

Surge então a pergunta: Meu deus do céu, quem é "profissional" e quem é "amador" ao lado do Player?!

Caso você tenha imaginado este espécime devidamente, acontecerão três eventos catárticos em tua vida:no primeiro momento pensarás consigo e irás verificar em seu coração o seguinte: "droga,sempre será sempre impossível..."

Daí, o segundo evento: você irá parar de tocar um dia, depois de saturar-se na competição e ter perdido nisso todo o senso estético e musical. E noutro dia irá tocar, mas fracamente, menos. Então chegará uma hora em que você quererá de fato parar,nem que seja para um longo descanço,e para.

Esta hora é a crucial. Se você sentir-se tal como um nadador que vai de uma ilha à outra, um nadador que ao se cansar demais no meio do caminho se obriga a descançar ali mesmo ,boiando, e que por isso não é dado parar para sempre, nem por muito tempo, então você entendeu que a tua relação com o tua arte e com teu serviço para os outros, é, sobretudo, contigo mesmo; e que o outro, isto é, o Player, é paradoxalmente a medida: não a de teu sucesso em relação a ele e aos que são dele e para ele, mas a medida de teu sucesso em relação àquela impossibilidade geniosa de parar, isto é, aquele momento em que sentiste uma vontade na qual os próprios limites de teu ser foram esquecidos, e apenas desta forma, suprimidos por um momento.

Agora você descobre algo mais importante que qualquer grau nos caminhos afortunados:isto é, que há dois infinitos bem importantes: o infinito entre os diversos caminhos afortunados e seus graus, e o infinito sem grau da identidade de ti contigo mesmo.




(imagem: Hammershoi, pós-romatismo dinamarquês.)

Sunday, January 1, 2012

II - I

O filósofo hoje suporta por quanto tempo,se isto for preciso para sua integridade, ser idiota e ridículo?

Devemos ser gratos pelo Ser estar sendo e funcionando a todo momento, sem te cobrar nada em troca.Sentir isto é uma forma de afinar e vibra...