Sunday, October 29, 2017

Se fosse possível uma entidade um pouco acima da cabeça do Papa, esta seria certamente a música de Bach.

Friday, October 27, 2017

Vadia por Aculturamento Passivo

Diferentemente das prostitutas,  que nos países ricos podem optar pelo ofício reconhecido, as vadias daninhas, pombas da calça branca apertada, não entendem como chegam a sê-las, e com seus falsos contratos, aparentemente gratuitos, causam realmente uma confusão nas diagonais entre castidade, fidelidade e livre erotismo. Por rebeldia surgem os que tentam ser mais castos que o possível; os que acreditam em relações cujo sentido é apenas ter filhos; ou aqueles que precavidos supõem toda mulher ser uma vadia.  


Diferentes das outras, as graduandas passivas de uma misinterpretação da tal de “emancipação da mulher” acreditam terem se tornado por firme decisão individual o que são, quando na verdade continuam subjugadas a modelos artificiais: seja o da decência , seja o da libertinagem. Esta abstém-se de uma relação sincera com o natural, onde o natural significa religião da natureza, não reflexo biológico e evolucionista; aquela abstém-se de uma ilustração da alma que a prevene da mesquinhez e hipocrisia sexual - ilustração possível apenas em um profundo esclarecimento filosófico-religioso de ordem mais ascética moralmente que o das religiões da natureza.



 Depois de enfim tornarem-se vadias, finalmente podem adotar uma postura severa e sensível de “ me respeite, machão”, orgulhosas daquilo que uma nova sociedade lhes imputou como valor: o valor da roupa enfiada. Mas também o valor de uma decência mais perversa que a de qualquer bacante.



A despeito de todos seus pecados, os “machos” mais diretos nunca sentiram problema em dizerem se querem ou não, se amam ou não, ou por descuido deixar um compromisso para presentear-lhes uma rosa; os menos diretos, por outro lado, desenvolveram grandes habilidades, inspirados - seja mais, seja menos - por uma amante ou por uma amada, algumas delas facultando-lhes a criação do que hoje são patrimônios da humanidade.



 No fundo, a maioria não teria catado tanta coisa, caso uma só entre as bem-dotadas que conheceram fosse sobretudo pelos dotes da personalidade digna de ser amada; e os que muito catam, ao menos não as deixam sadisticamente no meio do caminho ingenuamente insinuado, sem qualquer sinal de pena.



De certo modo o mesmo inverte-se para muitos homens, mas convenhamos: a eles nunca bastou levantar ambiguamente um pouco a saia. Poucas cuecas foram até hoje vistas por descuido, no?

















Friday, October 13, 2017

Limites do Imparcial


Distanciar-se de um objeto é a condição mais própria a estudá-lo ; no entanto, sem adesão a uma vontade e um ponto de vista, é impossível criar forças para começar empreitadas tão íngrimes. Esse distanciamento tem, no entanto, uma mensura particularmente difícil: pois a certo ponto, a distância o anula, e certo envolvimento se faz necessário.

Se não houver a possibilidade de existir uma teoria dos conceitos de esquerda e direita que não descubra-se fincada num destes, então estaria provado que a condição elementar das oposições ideológicas seja um conflito que se dá fora dos sujeitos em sua normal consciência, em certo momento “transcendental”.

Sunday, October 8, 2017

É comum ver  as pessoas esperar de seus deuses sempre algo material, quando empenham-se numa reza ou ato votivo qualquer. Dificilmente pedem por algo espiritual; e raramente teriam noçāo do que seriam bens espirituais, embora empenhem-se com fé no mais espiritual dos atos. Ou no mais material? (...)

A expressão: „Cultura esquerdista/direitista“

Quando mencionam uma “cultura esquerdista”, ou “ cultura direitista” referem-se na maioria das vezes a subculturas. O punk é esquerda, o público do Herbert von Karajan de direita. “Subcultura” defino contrariamente à cultura: algo exclusivamente sob o qual um povo não se sustenta como este povo e não outro. Um povo não nasce de esquerda ou direita; muito menos a civilização . Sua cultura não se constitui esquerda ou direita, mas somente formas ora mais ora menos explícitas de conformidade à religião ou não.

A grande confusão reside no fato de que direita e esquerda não passam apenas de funções políticas referentes ao sim ou não de algo político, mas que sedimentam em torno de si uma identidade, uma símbólica, que saem do âmbito político original e que, em contato politizado com o conjunto dos aspectos não políticos da cultura, formam sub-culturas.

Caso alguém diga cultura esquerdista ou direitista, como verificar que o locutor está fora ou dentro delas - assim como o público punk raramente seria público de Karajan- já que cultura, no sentido étnico, não como „alta-cultura“,  é aquilo pelo que não decidimos mas, no entanto, que constitui o que somos?



Saturday, October 7, 2017





Desvio do tipo substância-relação pré-identificado.






E aquela definição de esquerda, que acredito ter entrelido numa entrevista a G. Deleuze (« le abécédaire«) : “a esquerda é o que está contra o poder em dado momento”?

 Ora, por que considerar a direita e a esquerda mais uma substância que uma relação? Não é o Comunismo, p.ex., de esquerda ou direita conforme está ou não no poder? Não explica isso o paradoxo - na via do sentido conservador- ou dialética - na via do não-sentido revolucionário - do fato de o comunismo gerar proveitosamente  suas próprias tensões mundiais, aderindo - caso preciso- mesmo ao que lhe é alheio? Não tem essas tensões o aspecto de uma força predominante - força da elite, força da maioria oprimida - e aquilo que, pelo contrário, tenta definir-se  honestamente contra o ethos rancoroso destas, ou seja, o de uma vaga identidade a recuperar si própria?Por quê então substancializar esses conceitos e perdê-los como ferramentas de ação, do pró e contra, do anular , transformar, ou simplesmente levar adiante? Sua relacionalidade parece confirmar não o paradoxo, nem a dialética, mas sobretudo uma analogia fundamental (co-substancialidade): o modo de determinação histórico-política de cada ação; num trata-se da história que prossegue ao anular resíduos míticos, refezendo-os artificialmente, porém; noutro o do mito que insiste em interpenetrar com o eterno na história, mas sofrendo a determinidade fundamental do novo na História.

O mais suspeito em substancializar essas relações está em supor que haja nelas substâncias opostas, quando na verdade apenas como qualidade acidental se opôem, e quando é verdade que outro tipo de oposição , a nível sobretemporal, reside entre a ideologia estabelecida e a pretendente, não entre os atores e retores das mesmas. É, no entanto, certo que a duração ou durabilidade de uma posição confere a si própria um caráter susbstancial; contudo aqui o raciocínio resume e toma uma coisa pela outra associada a ele, sua retórica é metonímica, conotativa afinal. Pois no caso a coisa que fosse propriamente denominada , a relação oposta como relação, não tem conteúdo, apenas forma. 

A briga entre conservadores e revolucionários não tem actual e propriamente a forma esquerda/direita pois esta forma não depende do conteúdo conservador ou revolucionário, mas sobretudo do ser a favor de certa causa que reforme ou conserve propriedades humanas. É lógico que as propriedades sujeitas à História são as mesmas sujeitas à criatividade e, com isso, novidade intrínseca na ação humana;mas da mesma forma, talvez seja neste momento mais lógico ainda entender que se tais propriedades não gozem dum centro, tampouco um ser-humano sequer poderá servir ao próximo como referência ou cabo de redenção.
                               



                                                                   

Friday, October 6, 2017

esquerdo-direito

O que sempre pensei ainda não foi abalado pela realidade: sendo pra mim a hipocrisia o fio condutor das relações dos seres daninhos com as idéias sobretemporais, pensadas por gente de quem estes nem fazem menor noção, um esquerdista burro pode seguir a direita , e o direitista burro a esquerda, ambos sem nada saber. Pois nestas direções qualquer intelectual aponta para curvas e ironias imprevisíveis na manutenção da conformidade ideológica. A que conclusão se chega supondo que a  massa de qualquer grupo é ou burra, ou tola, ou ignorante, ou ao menos um espírito comforme e servil? Tanto entre conservadores como entre revolucionários vale o lema: nem todos os são "mesmo". Então, fora os votos e a presença em protestos, o que os distingue materialmente é muito uma ação a se analizar sobretudo pela magnitude de seus efeitos, nem tanto pelo agente, nem pelo discurso que nele se aloca , ao qual custa-lhe muito estudo e muita psique para candidatar-se a sair da ingenuidade.
A maior loucura da dita "esquerda", na minha singela reflexão: uma minoria que representa a maioria, mas sempre contra ela.

Devemos ser gratos pelo Ser estar sendo e funcionando a todo momento, sem te cobrar nada em troca.Sentir isto é uma forma de afinar e vibra...