Saturday, October 7, 2017





Desvio do tipo substância-relação pré-identificado.






E aquela definição de esquerda, que acredito ter entrelido numa entrevista a G. Deleuze (« le abécédaire«) : “a esquerda é o que está contra o poder em dado momento”?

 Ora, por que considerar a direita e a esquerda mais uma substância que uma relação? Não é o Comunismo, p.ex., de esquerda ou direita conforme está ou não no poder? Não explica isso o paradoxo - na via do sentido conservador- ou dialética - na via do não-sentido revolucionário - do fato de o comunismo gerar proveitosamente  suas próprias tensões mundiais, aderindo - caso preciso- mesmo ao que lhe é alheio? Não tem essas tensões o aspecto de uma força predominante - força da elite, força da maioria oprimida - e aquilo que, pelo contrário, tenta definir-se  honestamente contra o ethos rancoroso destas, ou seja, o de uma vaga identidade a recuperar si própria?Por quê então substancializar esses conceitos e perdê-los como ferramentas de ação, do pró e contra, do anular , transformar, ou simplesmente levar adiante? Sua relacionalidade parece confirmar não o paradoxo, nem a dialética, mas sobretudo uma analogia fundamental (co-substancialidade): o modo de determinação histórico-política de cada ação; num trata-se da história que prossegue ao anular resíduos míticos, refezendo-os artificialmente, porém; noutro o do mito que insiste em interpenetrar com o eterno na história, mas sofrendo a determinidade fundamental do novo na História.

O mais suspeito em substancializar essas relações está em supor que haja nelas substâncias opostas, quando na verdade apenas como qualidade acidental se opôem, e quando é verdade que outro tipo de oposição , a nível sobretemporal, reside entre a ideologia estabelecida e a pretendente, não entre os atores e retores das mesmas. É, no entanto, certo que a duração ou durabilidade de uma posição confere a si própria um caráter susbstancial; contudo aqui o raciocínio resume e toma uma coisa pela outra associada a ele, sua retórica é metonímica, conotativa afinal. Pois no caso a coisa que fosse propriamente denominada , a relação oposta como relação, não tem conteúdo, apenas forma. 

A briga entre conservadores e revolucionários não tem actual e propriamente a forma esquerda/direita pois esta forma não depende do conteúdo conservador ou revolucionário, mas sobretudo do ser a favor de certa causa que reforme ou conserve propriedades humanas. É lógico que as propriedades sujeitas à História são as mesmas sujeitas à criatividade e, com isso, novidade intrínseca na ação humana;mas da mesma forma, talvez seja neste momento mais lógico ainda entender que se tais propriedades não gozem dum centro, tampouco um ser-humano sequer poderá servir ao próximo como referência ou cabo de redenção.
                               



                                                                   

Devemos ser gratos pelo Ser estar sendo e funcionando a todo momento, sem te cobrar nada em troca.Sentir isto é uma forma de afinar e vibra...