Thursday, January 5, 2012

VI

O aforismo fora a sentença do sábio, mas agora é sobretudo o gênero do desespero daquele outrora sábio. A eternidade é nele perdida e revogada na impaciência do agonizante. Em meio à febre do pensar o caminho não é mais sequer planejado, não o pode ser. Os estilhaços são a única realidade, e a verdade é deles fazer-se o mais belo e kaleidoscópico mozáico. A única verdade é dar testemunho de si na situação do estilhaçamento. É indicar o alvo com o próprio indicador, e não com o da mão de outrem. E isto apenas ao que crê, ao próximo. Ao exterior não há nada mais a ser provado no terreno do substancial, e nem que seja preciso sê-lo. O sujeito que o prove em si, o arco da morte e do envelhecimento abre-se igual para todos. O que garantirá a autenticidade deste testemunho será fazê-lo esquecido do mundo e na grandeza de enfrentar o fatídico erguido contra o olhar infinito e temível de Cristo.

O aforismo é o pensamento que anda nu na propria redoma, e que de seu refúgio encalorado só exterioriza durante a necessidade visceral, pois sofre demasiado de frio.
O aforismo é um grito, e um grito que não se prolonga em capítulos: sua forte intensidade é breve mas deve ecoar eternamente nas cavernas do espírito, e tanto mais quanto mais imensas forem.

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Devemos ser gratos pelo Ser estar sendo e funcionando a todo momento, sem te cobrar nada em troca.Sentir isto é uma forma de afinar e vibra...