Friday, January 22, 2016

Técnicas preferidas do charlatanismo acadêmico. Lição I ( A Elipse)

Entre as técnicas preferidas do charlatanismo acadêmico, consta a elipse do adversário. Ela consiste p.ex. em não desenvolver suficientemente a tese contra a qual se posiciona-se, favorecendo assim uma interpretação malevolente das idéias em questão.

Assim, por exemplo, o sujeito, ao querer ante um projeto de pesquisa defender uma integração entre corpo, mente, e os próximos,  unidade que seria inerente aos sentimentos, critica que Scheler reduz as sensações ao corpóereo, separando delas, assim como deste, os sentimentos. A isto se culparia o próprio Scheler, seguindo nosso exemplo, que ele estivesse "separando os sentimentos em categorias" demais afastadas, como corpo e espírito; e que, ao desrelacionar  sentimento e corpo, Scheler impede a socialidade que devesse ser inerente ao conceito de sentimento.

Conto-vos um caso do Instituto de Fenomenologia da Universidade de Viena.

Aqui notam-se duas elipses, ou , do ponto de vista da má-intenção, omissões mesmo. Na primeira, se esconde a terminologia básica de Scheler, que envolve uma distinção entre sensação ( corpo) , sentimento ( algo psíquico,  ou seja, um recipiente complexo de misturas entre o espiritual e o corpóreo) e simpatia ( a faculdade subjetiva de reconhecer e conspirar em si mesmo com sentimentos alheios, isto é, objetivamente). Na segunda - pior ainda -ao argumentar contra um individualismo do conceito de sentimento atribuído às "filosofias recentes", não se menciona sequer o conceito scheleriano de simpatia, nem posiciona-se contra algo equivalente à robustez deste conceito.

Perdidas as linhas semânticas básicas, se trivializa a discussão, inabilitando mesmo os argumentos mais hábeis, uma vez que eles, mesmo que por, boa fortuna, desenvolvendo-se corretamente, perdem o contato com aquilo que querem tocar: idéias alheias, e fatos reais.  A partir disso se cai em uma àgua completamente triste e curva, onde o sujeito sugere - com ar de originalidade, creio - o conceito de "co-felling"(...) ; como se a palavra simpatia (ingl. sympathie, gr. sympatheia), independente de sua posição conceitual numa teoria, não abarcasse em si mesma o mínimo exigido para relacionar a subjetividade de certos sentimentos à alteridade instrínseca de certos comportamentos, e à alteridade essencial de certos sentimentos mesmos, p.ex. como o amor.  Sem uma palavra sobre isso, ele marcha adiante.

Em breve, ensinar-se-ia nas escolas o "co-felling" como algo filosoficamente diferente da simpatia (...) Isto mostra um desconhecimento do uso filosófico das palavras, que se distingue pela amplitude de seu horizonte histórico, e que regra-se normalmente pela etimologia ou pelos conceitos de origem, que formam sua noção geral, permitindo a formação conceitual mesmo num futuro distante das origens dos mesmos. Pois é claro que num texto filosófico percebemos a diferença entre simpatia como o " ser legal" e simpatia como uma faculdade antropológica. Só partindo de um substancial resumo deste idéia, para a qual contribui Scheler, é que "co-felling" poderia ser localizado como conceito: isto é, como o conjunto ou elementos de um conjunto de sentimentos gerado  na simpatia, e como resultado desta faculdade. Pois não há plural (conceitual) de simpatia, mas de "compaixões", como constelação de atualizações da simpatia.

Por tais motivos eu sugeriria algo como um Instituto Mundial de Policiamento Lógico-Dialético das Manifestações Acadêmicas (...)

Nas próxima lições relativas ao " Técnicas Preferidas do Charlatanismo Acadêmico" eu gostaria de abordar outras técnicas indispensáveis para o sucesso dentro do paradigma chartlatão e do auto-embuste que alatra-se de modo indefinido pelos espaços retóricos mais privilegiados, principalmente os institucionais; dentre elas, o não deixar falar, o fingir que não ouviu, a mudança súbita de assunto crônica, e o encurtamento estratégico do tempo ( o querido " time management").

Grato ao Leitor!

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