Thursday, January 21, 2016

Lógica e Retórica do Sentido ( Projeto e Reflexão Central)

     O modo discursivo da categoria que chamo " lógica do sentido", consiste em pertencer ao destino fáustico de empurecer-se contra o uso inconsciente ( isto é, por outro lado, espontâneo) das figuras retóricas ( as chamadas figuras de linguagem); entre tantas, da metáfora, e , em especial, da mais perigosamente sutil de todas, da metonímia, que, já observado por Aristóteles ( ver "Tópicos", p.ex), consiste em tomar como substância qualquer predicado possível a uma substância, e no pior dos casos, deduzir a partir de predicados contingentes algo essencial a uma substância, atribuindo, por fim, verdades relativas da parte a perenidade absoluta do todo ( a qual, em geral, tendem os conceitos) . Esta tarefa lógica poderia ser considerada, usando-me de uma expressão insólita de  Deleuze, uma "conquista geográfia de terreno", limpando-o, e assim estabelecendo a possibilidade de um discurso baseado em essências e inferências.  

     A pergunta que salienta-se é: o que é mais fácil; primeiro, estabelecer e dominar  a arte de uma retórica do sentido; segundo, levar a cabo a lógica do sentido, supondo que a técnica desta condiciona a arte daquela; ou , em terceiro lugar, entender a categorialidade filosófica de ambos discursos, assumindo dois ideais concomitantes e de regulação?

    Parece que um discurso puramente lógico, isto é, onde os sujeitos da discussão assumem uma univocidade semântica que os relacione diretamente a suas essencias, conformando a eles o uso correto dos predicados, não possui uma forca retórica que seja proporcional a necessidade de autocomunicação das verdades possíveis desta discussão, na medida em que a tarefa lógica pressupõe um nivelamento geral da comunicação que é privado aos colegas de uma discussão. Ensinar um conceito seria aqui a tentativa paradoxal de tornar público, ou mais exatamente, publicável, algo que apenas como negação e privação dos usos retóricos espontâneos é ativo em si mesmo.

   O uso retórico parece porém persistir nas tentativas lógicas e ao redor de suas essencializações mesmas.  Contudo tais tentativas parecem também, por outro lado, determinar usos e significados de forma tal, que justamente por isto as figuras retóricas obteriam da pessoa seu brilho e contraste, em uma palavra, sua auto-consciência. 
 
  A partir disto pode ser considerado que Lógica do Sentido, e Retórica do Sentido, como categorias ou áreas gerais da formação de sentido,  em relação às quais a Filosofia goza de uma autonomia incomparável e de uma influência, sobretudo quanto à intenção, estrutural, compõem nada mais que uma dialética complementar do sentido próprio enquanto tal.

 Uma vez não consistindo nem dialética, nem complementaridade nesta oposição, então seria de se investigar um paradoxo geral das categorias formadoras de sentido; o que parece, contudo, um empreendimento que por sua vez superusa (allio modo abusa) uma destas categorias, já que a formulação de um paradoxo, e seu estabelecimento como entidade ontológica, pressupçõe uma limpeza da (1) idiossincrasia dos usos retóricos e (2)  das figuras de linguagem e equivocações da linguagem que são quase que imanentes a sua estrutura, e por isso dificilmente perceptíveis. 

  A formulação de um paradoxo alternativo à complementariedade dialética das duas categorias gerais do sentido, pressupõe desativar a retórica do sentido, a qual, contudo, por sua vez, e por seu caráter categorial - como pretendo mostrar - é por necessidade ontológica sempre coexistente. Seria possível livrá-la da atenção, em uma espécie de epokhé, ou de redução, mas não desativá-la.

 A falta de percepção da categorialidade e, portanto,  coexistência formal,  da retórica do sentido e da lógica do sentido como princípios da formação de sentido, leva por um lado a uma retorização e , por outro, a uma logicização do mesmo. Melhor entendido: leva a uma retorização insconsciente dos valores lógicos, e por outro lado, a uma logicização arbitrária ( isto é, intencional, mas não consciente) de valores retóricos. Pois a ausência de um reconhecimento desta categorialidade tende a ser suplementada pela substancialização metonímica.

 Subjacente a essa reflexão fica patente, é claro, uma dúvida em respeito ao posicionamento ontológico destas categorias. Pois parece que elas são categorias artificias, de certo modo  "construtos", e não pertenças do mundo tal como o recebemos originalmente. Isto é, parece que conceitos criados, ou descobertos, podem ser intencionalmente erguidos ao estatuto de "coordenadores" de conceitos, os quais não são coordenados imanentemente por nada, a não ser, de certo modo, por quem os pensa. 

 Sendo as categorias da formação de sentido algo substancialmente diferente da ordem normal dos conceitos e dos dicursos em sua aplicação, então elas parecem "resultado" ou (1) delas mesmas, e não novamente derivações conceituais ( isto é, paradoxalmente),  ou (2) duma formação de sentido de ordem superior, ou ainda de ambos.





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