O pessoal não lê, é claro, a tal " Encíclica" - que é escrita já de modo tal que todo a compreenda! No Brasil eles conhecem o dito do papa pelo JN ou pelo Gugu. Na Itália por uma revistinha de 1.50 Euro que comenta apenas suas privacidades. Na Áustria um símile desta revistinha está para sair também. O pessoal gosta é do quadrinho do papa pendurado na sacristia, às vezes maior que o crucifixo mesmo. Assim não da nem para falar ou criticar " posições da Igreja". E nem saber se são elas mesmo horríveis, ou quais são de fato quase a salvação. Do contrário teriam caído já em guerra contra outras religiões novamente, desta vez no século mais violento. Há enfim uma ignorância recíproca e crescente: a do religioso, a do não religioso, e a das principais religiões, que relaciona cada um em deles entre si num "complício". O papa mesmo, em meio a adulação ao seu poder, e menos à sua santidade, vê-se no risco natural de confundir-se a si mesmo. Veja-se, p.ex., a disputa sobre o conceito de santidade entre Kant e St. Thomas: numa a relação com um Deus infinito, objeto do conhecimento, reduzido ao hoje precário conceito de causa, noutro com Deus apenas indiretamente, ou seja, numa relação com a pura exigência subjetiva da moralidade face ao limite do conhecimento, relação independente do causal, mas antes constituída na purificação ascética da vontade face ao dever (...) Essa "querela" parece inatual, ou melhor, inacessível mesmo ao público escasso da Encíclica, que estimo constituir-se por teólogos, padres e religiosos em formação - exceto incluam-se nisto fiéis que arrisquem sair da região de conforto. Evitando fazer da Encíclica uma " Complíquica " a esse respeito, consultou-se, pois, para a última delas, a teologia do meio ambiente de Leonardo Boff, que estudou cinco anos em Munique com um dos teólogos mais comentados no século passado, Karl Rahner. Veja, não trata-se exatamente de " nossa teologia!". P. Francisco teria que responder nela algo sobre a dívida da Teologia Cristã para com a matéria natural - problemática subjacente à deterioração do meio-ambiente. Mas duvido que o faça mais na forma de resolução de problema que simplesmente em uma expressão ativista cortesã e pensamentos de diplomacia interdisciplinar. Quer dizer: no que toca aos pontos decisivos, leia-se antes então Leonardo Boff e Karl Rahner mesmo ...
Ao papa seria preciso o talento de andar como um zero em meio a todas contraposições ambíguas na conjuntura do poder que representa: ser e não ser, ora à esquerda do número, ora à direita. Pois têm toda sorte de inimigos; o maior deles, a hipocrisia dos católicos mesmos face à teologias, que entre si mesmas disputam, e o populismo medroso - conseqüência de uma "misinterpretação" da "Missão" - que tirou faz muito tempo a vitalidade religiosa, que em última instância punha-se em relação com o mistério natural da matéria, e que fora evocado pela afirmação desenvergonhada do místico e hermético de seu ritual.
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