O sujeito é burro quando nega por meros sentimentos negativos um argumento válido na forma e correto quanto aos fatos que lhe servem de premissa ( "argumento verdadeiro"), teimando por este caminho.
Isto quer dizer, o Burro é quem argumenta exclusivamente ad hominen e ad fortiori , por motivo de não ter outra saída afetiva e cognitiva para tal, sofrendo ele próprio frequentemente as consequências disso . Desta forma, xingar ou qualificar alguém ou si mesmo de burro, especialmente num contexto de retórica filosófica, é uma espécie de ad hominen elevado ao absoluto: parece haver algo de especial a mais!
O advento da burrice, ao lado do de abuso de poder, mostra-nos a fragilidade de saber algo baseado em premissas verdadeiras e concluído validademente - mesmo do ponto de vista mais formal. Somados uma a outra, burrice e tirania mostram-se de fato algo avassalador. Por isso não é mal que muitos venham desde anos desenvolvido uma arte contra isto....
O advento da burrice, ao lado do de abuso de poder, mostra-nos a fragilidade de saber algo baseado em premissas verdadeiras e concluído validademente - mesmo do ponto de vista mais formal. Somados uma a outra, burrice e tirania mostram-se de fato algo avassalador. Por isso não é mal que muitos venham desde anos desenvolvido uma arte contra isto....
Kierkegaard talvez diria: " Trata-se do momento onde é evidente que nao vale a pena te levar com paciência na ironia devo por termo nisso seriamente".
Vários filósofos xingam interiormente os outros de burro, acredito. Deve ser uma espécie de exercício interior. Mas a diferença que ponho é: um caso, o popular, significa " idiota; pensa direito; desatento!; não gosto de voce pensando assim... ", e noutro " enfim, o diálogo racional e cordial é impossível por tua culpa, e continuar me ofende na dignidade intelectual. Então se me acusares de algo a respeito do qual não queres ou não podes entender minha defesa, chamar-te-ei de burro".
Enquanto chamar alguém de burro simplesmente é ofensivo, Olavo converte isso num contra-ataque por parte do que tem razão frente aquele que nega objetar o conteúdo de um argumento, esquivando-se por vias suspeitas. Se chamas de burro alguém que tem razão, este irá repetir seus mesmos conceitos, clareando-os mais uma vez; mas se chamas um charlatão intelectual de burro, este esquiva-se do foco como um rato, voltando por trás.
A palavra parece sempre ter sido afastada do tom intelectual precisamente por seu jeito ofensivo. Eu mesmo compartilhei este sentimento já alguma vez e acho que escrevi neste site mesmo dizendo que não há conteúdo em chamar alguém de burro - o que de início é de fato a verdade de toda ofensa na argumentacão. Mas eis que de uns tempos para cá, a insistência de Olavo de Carvalho deu-lhe um matiz muito próprio e quase intelectual, como se fosse o coroamento terminológico de sua filosofia e engagamento jornalístico tal como o absoluto hegeliano da pessoa Hegel mesma. Certamente há algo de duplo em torno disto: cômico e absurdo.
Os motivos para esta postura, porém, no são apenas baseados em sentimento, mas em duas coisas ao menos. Por um lado, na tentativa de descrever um caso-limite intelectual, onde após o locutor demonstrar um fato, o interlocutor nega-lhe ( por esquecimento, cinismo, ou má vontade) a simples compreensão do conteúdo que foi dito, sem confundí-la com a asserção, e sendo assim a única forma de contra-atacar. Por outro lado, é sabido a influência do cavalheiro Robert Scruton em suas abordagens sobre ( e muitas vezes sob) o termo "conservador". Bem, Robert Scruton afirma perante a mídia inglesa algumas posições tão "radicais" quanto as de Olavo, mas com uma suavidade que me parece às vezes pedante. Então suponho que Olavo, ao ler um filósofo destes, traduz interiormente seu discurso em uma forma mais brasileira... Nesse sentido é que muitos errarão quanto ao emprego peculiar do termo em sua fala- o que não significa que seja um conceito de sua filosofia. Mas eis que eu ofereceria ao leitor uma curiosa reflexão quanto ao experimento de supor a burrice como algo próximo a um conceito mesmo, o qual teria ficado célebre pelo filósofo. O mesmo vale para os "estultos" e "tolos", citados por Erasmo ou na Bíblia mesmo. Não fique, pois, tão assustados com a novidade...
Pois não é, também por isso, algo para o que ele não tenha motivos da filosofia mesma: Aristóteles já dizia em sua Ética que o virtuoso se expressa com veemência quanto a fatos injustos demais.
Por estes motivos é que trata-se de uma palavra que, mesmo chula e ofensiva no cotidiano, parece muito especial para o filósofo e homem de saber em geral, e que acusa uma situação-limite frente a um adversário ofensivo e não dialógico; um limite não de sua sensibilidade apenas, mas de seu uso eficiente e comunicativo dos conceitos.
Seu charme, porém - e , na minha opnião, humor mesmo - parece estar na mão dos conservadores, ao dar-lhes algo de subversivo e que desafia o próprio "gentleman" ...
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