Sunday, May 29, 2016

Xadrez

Ah tornar-se enfim erudito, um grande filósofo, um belo empregado, um grande pensador, o "magister perennis" do livro que apropriou todos os livros, o tema de monografias e conversa nas festinhas de fim de curso,  da discussão internacional dos departamentos, o polemista recluso na glória do ostracismo geral, ou o que escreveu para "aqueles",  herói do original no livro que refutou todos os livros, da palestra que persuadiu o consenso acadêmico, igualmente o pleno senso comum, arqueiro da flecha  certeira do arco interdisciplinar...

Ah conquistar um patamar onde se esquiva-se cada vez mais facilmente de perguntadores fatais. Poder instituir conversas sob controle, configurar os convidados, evitar a questão "que levaria-nos longe demais", desbastar os cantos enferrujados da memória, evitar ser repensado pelo Outro sob a leveza medíocre  de seus pensamentos - mas da ameaçadora noite escura destes, ao mesmo tempo. Não perder tempo respondendo ao marcineiro, explicando ao carpinteiro, tolerando a insistência da enfermeira inquisidora. Ao diabo com apostolados: meu tempo é curto, pois mede-me apenas a fita da eternidade.

Trata-se de um arco de mármore, cuja contraparte só poderia resumir-se ao próprio símile: outro arco de mármore.  Nunca qualquer um , e não mais que um.

  Significa morrer nas perguntas escolhidas à altura da coragem ou covardia de si mesmo, mas sem de fato poder dar ao mundo acesso a isto que ele mesmo no úmido subsolo de sua alma não ousaria duvidar durante mais que a gota de um lon-güin-co segundo (...) Não duvidam uns por certeza demais; outros por dúvida demais.

Mas ora, não fora sempre conhecimento um parco fecho de luz ao horizonte, que frente ao Desconhecido, tanto grande como pequeno, não faria mais que debater-se contra o Infinito?

Todo filósofo desaparece de alguma forma no vapor de sua própria caldeira. Nenhum sujeita-se ao constante jogo do ganhar e perder, à vertical do cair e subir, do cheque e descheque, ao paradoxo do peão-Dama, próprios do que os grandes enxadristas prefereriam travar consigo. Todo admnistra como pode a linha tênue entre lógica e retórica da palavra "todo";

                    nenhum parece hesitar em ilhar-se com este inverificável "nenhum".

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Devemos ser gratos pelo Ser estar sendo e funcionando a todo momento, sem te cobrar nada em troca.Sentir isto é uma forma de afinar e vibra...