Pior do que as grandes questões é não haver alguém com quem tratá-las em confiança. Outra grande questão...
É muito eficiente o modo gregário da estupidez, e o da ignorância, sobretudo quanto à consolidação das amizades.
Entre os que querem saber, a experiência comum não está naquilo que julgam saber, mas sobretudo na alma do querer saber. Pois o que sabem juntos passam logo a não saber juntos, assim que tal saber é decomposto em suas partes, freqüentemente opostas.
Por isso alguns julgam serem amigos ou amarem-se por algo que pode ser contrariado pelo passar dos tempos; e outros amam-se e identificam-se pela forma.
Quanto à verdade da amizade, que é sua perenidade na vida e seu o sentimento de compartilhamento destas em uma só coisa , ou afilia-se por uma forma ou por nada, isto é, jamais.
E que forma é esta, que é a forma real da vida e a forma real do saber, senão uma alma e suas atividades e desígnios mais superiores?
Pois a unidade de tais desígnios nunca poderia ser imaginada como algo bruto, mas sim vivo. em so si próprio uno e intelectivo.
O saber da amizade mesma, bem como seu acontecimento, parece deste ponto de vista a primeira das grandes questões, pois qualquer uma delas desafiará sobretudo qualquer amizade, sempre que desafiar qualquer parte sua, colocando mesmo a base, sua forma, à prova.
Não parece ser então possível afiliar-se de modo perene se a base não passar de uma frágil perspectiva. E isto parece, por um lado, pior que estar consolidado na solidão frente a qualquer grande questão, pois daí trata-se de uma traição sempre iminente da contingência. Mas por outro lado a solidão do saber parece igualmente pior, embora consequência de uma traição da contingência:
por que , mesmo no desespero e desafio do saber, não se deveria perder o contato com estes para quem ele estaria aí.