Tuesday, March 29, 2016

Carisma Filosófico / Perda de Tempo Intelectual

  Eu sugiro urgentemente não resumir-se a espectador de nossos shows filosóficos: Clóvis de Barros, Mario Cesar Cortella, etc... Um substitui o pai que todo brasileiro no fundo nao quer mais; o outro substitui o filho que renasceu depois de uma época forte de maconha, acordando com uma voz rouca que o perseguirá até a morte. O mesmo vale para os shows internacionais: Precht, Slavo, Chomsky;  erguem um espectadorismo muito mais ativo que a vida intelectual e, sobretudo, disforme e desproporcional para com ela. Esse pessoal é altamente carismático; com o Clóvis mesmo é de morrer de rir. Mas a verdade é que não se aprenderá a pensar em filosofia com essas pessoas. No máximo eles aprazem ao narcisismo filosófico do espectador: fá-lo sentir-se inteligente, e dá-lhe o prazer teatral da realização momentânea do que , também por um momento apenas, quer ser. Ou seja, o caminho, o suor, a responsabilidade, as crises intelectuais ficam todos por um curto momento suspensas, ou mesmo abandonadas de fora, perpetuamente. Eles não fazem mais que construir muito bem discursos retilínios sobre temas problemáticos e substancialmente difusos. Nunca opoem-se de fato ao paradigma dominante como algo real trazido aos conceitos, mas colocam no lugar deste um espantalho inexistente, enriquecido apenas verbalmente e corroborado pela espectativa estética do auditor ; uma soma entre algo que Deleuze entederia como "personagem conceitual" e o que Schopenhauer, em sua filosofia estética, chamaria de "excitante". Nunca percebi um momento minimamente dialético e metódico em seus discursos; nunca percebi um questionamento ao mesmo tempo puramente racional e humanamente radical em suas falas- embora eu não esteja deste modo pretendendo um fácil cafuné no próprio Deleuze, ou ainda defendendo um possível rancor de Schopenhauer. 

Mesmo embora não o quisessem, embora fossem "homens bons", falam cuidando da imagem; sua fome não é o suficiente para sujar a roupa. Estão aquém tanto da dialética clássica como da criação ou elaboração do conceito; tanto do espelhamento poético do mundo, em estilo pré-socrático, quanto da crítica social. Encaixam-se por isso muito bem na vitrine, socorrendo ao desespero intelectual do aniversariante familiar, da vida entediada indo à compras de Natal. Enfim, se são bons, são como a aspirina, não como os hábitos saudáveis.

Aos esfomeados por simples "cultura" há meios mais democráticos: arte e religião.  E mesmo assim, só sob certo aspecto muito especial estas coisas são "para todos".

Por outro lado, quem apreciar a filosofia deve tomar uma decisão radical de desentortar um ferro torto.
Isso implica atividade hercúlea do espírito sobre si mesmo, nao espontanea e rancorosamentente sobre a materialidade social imediata, e muito menos não espectadorismo e aplaudismo.

Houvesse já um corpo respeitável e independente de filosofia no país, ou mesmo no mundo, comparável ao que tinhamos até  ca. 300 anos atrás então poderia-se talvez brincar carismaticamente com filosofemazinhos...

Não acredito que quem entra pela porta errada, se identificando com ela, irá parar no lugar certo. A melhor introdução ao saber, do ponto de vista mais arco-democrático, é simplesmente desimpedir as vias respiratórias, tirar a gordura e os obstáculos que o impedem; pois todos tendem por si mesmos e enquanto si mesmos - não  como espectadores - a ele, 

                                  assim como uma planta tende à luz.




https://youtu.be/BS6wRvFUp1w

https://youtu.be/Y-Ka90psdpI

https://youtu.be/Xsi6L9HeDCM

http://www.obrasdearistoteles.net/files/volumes/0000000033.pdf


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