Essa idéia da influência do platônico mesmo em sua ausência deve ser segurada. Estou trabalhando na mesma coisa, subsumida porém na forma do cristianismo. Essa idéia deve subsumir na forma do Cristianismo para que dê o olhar do contemporâneo, mas sem esgotar porém o conteúdo pagão - ele pode ser ainda útil em sua forma ingênua.
Eu devo aproveitar a ocasião, e que és um rápido leitor, para sugerir-te uma atualização urgente por parte da superação teológica da filosofia e das dialéticas do saber, tal como Kierkegaard expõe bem. Eu estaria sendo incoerente com meu trabalho se ao menos não manifestasse a sugestão.
O tema que me preocupa agora é, em que sentindo o bem-estar ou a felicidade individual devem ser preteridos em relação ao ideal - esse tema romântico mesmo. Kierkegaard p.ex. supera a própria noção de felicidade, mas não abre mão da liberdade. Kierkegaard, entre outros, não acha difícil ser feliz, mas ser livre para desligar-se dos homens e experimentar o tal "silêncio interior".
Por outro lado, às vezes suponho que não seja absurdo a felicidade no caminho do ideal, isto é, de um dever extrínseco que é testemunhado na interioridade. Dever tal como aquele com que Schopenhauer caracteriza o gênio na Metafísica do Belo. E felicidade tal como no sentido alquimíco de consubstanciação com a Ordem, enfim...
Falando em gênio, K. problematiza a relação entre o paradigma do gênio e o do santo. Isso é muito interessante, e coloca-me na lembrança daquilo que certa vez te coloquei no costão do santinho, entre as pedras: " Por que não o santo?"
Enfim, a problemática do platônico é a problemática da hipocrisia, ligada ao ser-si-mesmo sob certo conceito, sob certo Eu.
Enquanto os platônicos perdem o jogo por W. O, a "multidão" ganha-o por nem tê-lo começado. E enquanto isso o filósofo morderno tenta apreender a ser nômade e a viver entre vários climas diferentes, do seco ao úmido, do frio ao quente. Tampouco deixa ele de visitar o subterrâneo e logo em seguida alçar vôos supralunares... e vice versa.
Escrito em ocasião de correspondência.
No comments:
Post a Comment