De fato o Brasil está numa crise moral horrível.
Penso que o país foi delegado a um "outro" que nao é ninguém.
O hábito preferido é freiar somente quando é visto um carro na contra mao. Para o brasileiro vale uma consideraçao que Max Scheler fez para as plantas: a mínima percepçao da realidade por parte desses organismos é devido a uma resistência , devido a um contra-choque da realidade ( Widerstand). Com o cachorro é parecido: ele nao responde por si até que surja um carro e lhe atropele o rabo.
Na escola, p.ex., o aluno sempre sente-se avaliado, mas nunca suspeita de entender que trata-se da ocasiao de sua avaliacao, no sentido de um possessivo ativo.
É terrível.
O pior de tudo: o sentimento de anonimato é precipitado mais ainda por cartas e posts como este aqui. Mais que esbofeteando a Dilma, O Lula, o FHC, o Color, o Et Cetera, o país melhoraria mais lendo a literatura moral mesmo, dos portugueses, dos espanhois, dos franceses, dos ingleses, dos alemaes, ou sendo justos e coerentes com qualquer religiao pelo menos.
O mesmo vale com as criticas ao papa et cetera: penso que possas primeiro abrir um caminho, em vez de fechar outro.
Alguém tenta erguer a revoluçao da reclamaçao, uma revoluçao em vao. A reclamacao faz sentido indo a quem se endereca o assunto reclamado. Caso contrário assemelha-se a dois irmaos que reclamam dos pais uns aos outros sem que os pais saibam. O poder nao se dá a ser convencido - ele deve ser apenas poder, e sempre - , mas ele pode simplesmente cair por absurdo, por nao ter mais seu "outro" apoderado, e este absurdo é que alguém pode começar por outro caminho. Pode a moral ser apoderada por outrem? Só pelo indivíduo mesmo, nao por seu próximo.
O problema moral-social, doravante, reside em tres coisas: a hipocrisia (incongruência), poder e status isento de responsabilidade e competencia, e ainda impunidade de uns pelos outros. O povo nao se auto-policia pois quem tem a polícia do outro dever ter sua moral; ora, que ninguém tenha policia, nem moral, e fique assim tudo bem...
Nao subestimo a complexidade e profundidade do problema moral, mas escrevo sob visao de uma urgencia maior.
Para esta, a literatura moral seria uma espécie de colírio ideal para um olho ressecado. Diferente ao ouvir, ao ler a alma fala consigo mesma e tira mais livre e puramente suas conclusoes. Trata-se de uma metamorfose às escuras.
Só o perverso nao lê-se ao ler, e nesse sentido é em vao escrever-lhe, e me abstenho de um discurso que salve o gênero humano inteiro ou parecido. Basta que o brasileiro adquira uma moralidade mínima nos três tópicos acima...
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Thursday, July 10, 2014
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