Tuesday, September 19, 2017

Por ironia da vida, as pessoas que mais precisam de ser ajudadas são aquelas a quem parece mesmo impossível ajudar, seja por conta da resistência delas, ou por algo que lhes escapa.

Sunday, September 17, 2017

NOTA SOBRE O ACLAMADO LIVRO „ A VIDA INTELECTUAL“ de Sertillanges

Antes de tudo, gostaria de sublinhar a minha primeira impressão de que o livro é especialmente vago, considerando tratar-se de um texto cujo autor seria um “ homem da verdade”, como ele próprio aponta; e isto vale sobretudo para o capítulo sobre o tempo de trabalho. Por exemplo, ao dizer que até mesmo 2 horas diárias bastariam para „uma vida intelectual”, fica de lado o mistério que isso significaria para um dado leitor e, mais ainda, a conexão disto com a idéia de que “ um intelectual deve sê-lo o tempo inteiro ”. Enfim, os pontos cruciais do livro, para os quais se espera que ele esteja aí, não são desmiuçados.

Isto conduz-me ao segundo ponto. Houvesse tal “homem da verdade”, acha o autor que este seria ensinado por um discurso cuja essência está em trazer lugares-comuns milenares à promessa de um convite, guia, ou estímulo à vida intelectual? Tais lugares comuns, que frequentemente não deixam de ser ricas máximas, são as considerações sobre silêncio, amizades, mulheres, prazeres, simplicidade. Elas sempre estiveram por toda parte: é próprio dos gênios não precisarem de muita explicação quanto isto; seus problemas são outros. E ainda: não há homem de grandes feitos que tenha agradado ao mesmo tempo à Deus e a um moralista idealista ( “perfeccionista”, mais exatamente ) ; pois não há grande homem que não tenha sido radical quanto a uma coisa fundamental sem deixar isto afetar outra que julgasse mais acidental, ou que ao menos lhe estivesse fora de alcance.

Caspar David Friederich


Neste aspecto o livro parece por um lado ingênuo ao não tratar a integridade e edificação de uma vida intelectual, principalmente uma entendida em "stilo antico", como um grande problema (equiparado mesmo aos problemas de saber, agir, e conhecer em si mesmos, embora condição da solução destes) limitando- se a mencionar seu aspecto - masoquista, eu diria - de esforço/prêmio. O problema omitido consiste em relacionar toda a dificuldade formal da verdade, relacionada à vontade infinita do espírito, à limitação do corpo humano e, principalmente, à constituição disto tudo numa pessoa, cujo contexto é um mundo que se realiza como ação, naturalmente hostil à intelectualidade, e, mais bravo que ela, conservador pétreo de seu ser cego e actual. Não se trata do desconhecimento de uma receita perfeita e de um fim perfeito, mas do liame entre ambos.

Não faz sentido escrever um texto deste para o próximo único santo e gênio do século; a partir disto, pensou bem o autor a que realmente isto se destina, e se o faz mais que num sentido recreativo ou pedagogicamante estimulante? 

A vida de um "homem da verdade", como o próprio texto com propriedade afirma, requer esforços às vezes colossais; ora,  embora não faça mal, ninguém julga sensato amenizar um membro amputado dando-lhe um suco multivitaminado....

Esta ingenuidade manifesta-se ao se idealizar um asceta sem, porém, tratar daquilo que o impede de ser, ou seja, de alguma realidade. Ora, quem chegou ao livro já tende , por si, à vida intelectual; se não tende, não é por este tipo de texto vago, centrado apenas na nobreza da intenção e na acuidade em definir um ideal, que será espantado: para uma tarefa tão simbólica e edificante bastaria uma bela personagem literária. Aqui o símbolo seria a o limite frutífero do devaneio, a reversão da vagueza em uma representação mais poderosa, pois sólida.

Trata-se, enfim, de um manual bem-intencionado, inofensivo, digno de ser conhecido, mas de forma alguma de um justificado clássico da formação de gente cuja competência cubriria - esperamos - uma lamentável escassez em nossos tempos. 

Saturday, September 16, 2017

Declínio Europeu

Acredito que esta foto mostra a consumação de um longo plano cujo objeto é destruir a faculdade de julgar diferença e semelhança, essência no que é mesmo e hierarquia no que é distinto. Não tarda a chegar ao Brasil o igualamento total entre as categorias do contingencial e a do substancial em nossas vidas, desta vez protagonizado pelas entidades mais representativas. Pelos flancos mais indefesos à lógica dos catetos, e mais sujeitos à retórica, a saber, nos setores da Arte e da Pedagogia, dar-se-á o primeiro golpe irreversível, gritando safadamente com motes de fraternidade cristã, como lê-se na imagem:


" Sim, eu quero"

" Todos homens tornar-se-ão irmãos "


Assine já a  "Temporada do Gênero" no teatro municipal de Salzburg ( que estica-se com este cartaz faz já quase ano) e perverta o que seria a arte européia, séculos de suor e inspiração por ideais mais razoáveis que parir uma familía pelo ânus...

Thursday, September 7, 2017

Música de Amor

De que ano é a música de amor mais bonita e recente que tu conheces em geral? Na música clássica será hoje mais difícil ainda de achá-la.

Tuesday, September 5, 2017

estado/pátria

A muita gente falta quebrar a cabeça com o seguinte: a fissura entre pátria estado e a entre o estado e um poder anônimo.

Wednesday, August 23, 2017

Valor Humano / Valor Animal



O que é um veterinário? Alguém que liberta o cachorro. Logo ele depende do ser humano em várias circunstâncias. O ser humano é, pois, superior, por isso pode salvá-lo. Ele o salva, logo é superior. Enfim, o valor de um ser que não concebe superioridade não pode ser de fato superior. O valor dos animais é dado por intermédio e analogia. O valor de sua existência, no entanto, não deixa de comportar certa sacralidade, pois de fato ninguém saberá explicar por quê o animal é um animal: há sempre algo de mais nele que o transcende; enfim, há algo divino, portanto.

Nivelar humanos aos animais significa animalizar o humano usando de algo propriamente humano e de uma ordem ontológica que apanha panoramicamente todos os seres , isto é, o conceito e sentimento de valor - o que é um absurdo e difere absolutamente do ato de considerar a animalidade inata do humano.

Sunday, August 13, 2017

O pensar fragmenta a realidade?

O pensar fragmenta a realidade.

Uma frase poderosa que encontro numa palestra de que, dizendo a verdade, desconfiei. Hegel teria um belo comentário para a expressão.

A conclusão teosófica: não dê atenção aos pensamentos.

A conclusão hegeliana: os pensamentos são fragmentos da realidade, mas o ato de pensar encontra seu sentido em remontá-la num conceito que supera estes pensamentos, mas que ainda os contém de certa forma.

Esse ato de pensar é absoluto,ele assemelha-se ao ato mental teosófico de elevar-se para além dos pensamentos, pois na verdade ambos primam pela elevação da consciência para além da representação mental ( Vorstellung). Em suma, ambos contrariam a idéia de sobrevalorizar representações: Hegel o faz em vistas de captar o que é realmente conceitual, mas enquanto "fragmento do Absoluto"; a Teosofia, por seu turno parece elidir o conceito, mas conserva, no entanto, a idéia da sentelha do Absoluto, atribuindo-a porém até aos animais.


https://www.youtube.com/watch?v=4b6KZA7jKC8

Devemos ser gratos pelo Ser estar sendo e funcionando a todo momento, sem te cobrar nada em troca.Sentir isto é uma forma de afinar e vibra...