Sunday, February 22, 2015

" Post"

Ah... essas frases que nos salvam quando a coisa frita. "  blablabla ...." T.S Eliot., " blablabla...." Kafka, " blablabla ..." Plínio Salgado. Karl Marx, Santo Agostinho, Madame Blavatsky,  Renato Russo, Einstein,  Gandhi, São Paulo...  Elas acudem aos melhores bandidos. Mais forte que tua fé e teu entendimento, é tua fé desesperada nessas frases de salvação... (Quando o escuro te quer dar um abraço apertado).

Saturday, February 21, 2015

Filósofo / Não - filósofo


1. o não-filósofo confere ( deve conferir) responsabilidade ao filósofo.

2. esta surge por antecipação, isto é, repassando-lhe um poder, no caso o mérito daquilo onde seu ofício ( seu fazer) ganha seu mérito e o constitui como profissão.

3.  a responsabilidade do filósofo é independente do público, e deve ser sentida entre o corpo profissional mesmo. O corpo profissional faz de si mesmo sua dívida em matéria de competencia, gera sua tarefa e responsabilidade.

4. no entanto, é o público, ao ser crítico ele mesmo do corpo filosófico de sua comunidade, quem coloca o filósofo num segundo dever, relativo a este público e  sua comunidade mesmo. O público deve perguntar ao filósofo e assim endividá-lo.  Essa dívida é uma segunda dívida, e parece decisivo para o sucesso da realização da dívida mencionada acima: a filosofia é financiada por financiadores, por um público, os quais por sua vez tem opniões e filosofias não explícitas.  Esta segunda dívida, a divida que o povo passa ao filósofo mostrando-lhe o mérito que ele mesmo havia deixado cair no esquecimento ( p.ex. o de analisar problemas éticos) independentemente da auto-suficiência e auto-crítica da elite acadêmica entre si; esta é uma segunda dívida,  e pode regular esta elite  quanto à tarefa filosófica mesma de " dizer o real", uma vez que o não-filósofo ele mesmo constitue o real.

Friday, February 13, 2015

Resumo, Introdução, Comentário : Lógica do " Paper "

Em geral, o melhor uso que podemos atribuir à introduções e comentários em filosofia e áreas afins é o de , através da imperfeição, provocar no leitor as perguntas que o original ou o clássico mesmo pode responder.

Muitas vezes a tarefa destes trabalhos não fazem mais que antecipar de forma fosca e morta as frases a passagens principais que dariam o osso quente de um clássico. Em geral inverte-os porém num mozaico-monstro. Por isso o  leitor mediano foge do assunto, dando-se por satisfeito com tanta "profundeza", e o leitor investigador - para quem pouco é escrito!- fica tão instigado a buscar o original...

Tais textos chegam à publicação por motivos extrínsecos ao querer-saber, muito mais ligados ao " saber é poder se empregar logo logo".  Tais autores crescem sob a máxima dos pais de classe média, obscessivamente competitivos, mas de boa intenção: " Não importa o que e como, estuda, publica quantitativamente bastante, e ganha logo teu emprego antes do outro".  O sujeito ama o clássico pois este o tornará doutor ; por outro lado nega a dimensão devagar e calma de vida que o clássico exige.

A lógica da familia é a segurança, mas a da academia é a verdade e honestidade da investigação. A administração universitária perverte a lógica da academia, ao torná-la apenas meio da lógica da familia burguesa. Assim é a da burguesia alemã, na qual idealmente todos os integrantes deveriam ser doutores : mesmo que entregando pão na padaria aos 40 anos. Aqui na Áustria foi introduzido a obrigação de apresentar um " paper " para se formar no ginásio. A apresentação do projeto merece apenas 5 minutos, e a discussão 15 minutos...

Isto tudo parece correr entre a classe média de direita, entre burgueses de direita, mas ainda entre os "burgueses de esquerda", cuja complexidade da distinção não ousamos aqui abordar. Basta a noção ; apontamos um fato, como denúncia que outros podem perceber por si mesmos, independente de provas conceituais.

Enfim. O motivo desta tendência é claro: a forma de titulação acadêmica, cobiçada interessadamente por não acadêmicos que disputam por uma profissão prática, é o resumo, a introdução, o comentário.

A passagem do pedagógico ao acadêmico, cuja diferença é categórica, é  desprezada , se misturando um com o outro e anulando a virtude de ambos.  Isso confunde a seriedade acadêmica  específica do resumo, da introdução e do comentário...

Hegel escreveu uma introdução. Avicena um comentário. E Diógenes Laertius resumiu quase tudo que soube, um artista da doxografia... Fizeram-no, porém, por motivos investigatórios honestos e precisos, não por gosto ou arbitrariedade da lógica do mercado profissional, não?

A academia deve ser dos acadêmicos; a escola-técnica dos profissionais práticos.  Só então uma pode ganhar da outra. Só então -  isto é, distintas as funções esotérica e exotérica da instituição, isto é, da forma de produção e da forma de emissão -chegará a ambas categorias profissionais   resumos mais úteis, comentários e introduções mais úteis...

Tuesday, February 10, 2015

Ponte

   

Observemos o fato de que filósofos também, assim como os arquitetos verificáveis quanto sua competência, constróem pontes ou não, e que algumas caem logo e outras depois. Certas pontes, p.ex, não poucas, levaram à guerras mesmo. Trata-se de pontes também importantes: entre o ideal de representação e o estatuto de "real" do que é representado. De fato a verificabilidade da competência do corpo profissional é horrível e difícil em filosofia. Limito-me porém ao problema do interesse e da hipocrisia quanto à cidadania e mérito confusos da coisa. Contudo, não é de fato uma reclamação isto do que trato, bem pelos motivos que são tácitos:  contrária à ponte " real" e " de verdade", a ponte da representação é seduzida por seus infinitos multiortogonais e furta-se facilmente à prova da evidência. Não obstante, ela condiciona a própria evidência mesma, dando-lhe o critério. Só para um tipo de evidência  ela evidencia-se ainda de outra forma, mais direta, mais positiva que a evidência do sucesso prático: ela evidencia-se ao cair (...) A queda é imediata, diretamente violenta, nela quebram-se ao mesmo tempo problema, evidência e o sentido que os unia, tornando um o critério do outro. A ponte da representação - digamos a do sentido- caiu no momento em que, devido ao assassinato em 1914 do então herdeiro do trono austro-húngaro, Franz Ferdnand,  cometido por um jovem de apenas 18 anos, a por giro de valsas entorpecida estrutura da burguesia romântica cedeu à tentação de defender ao politicamente anônimo ideal da unidade nacional - um ideal de pátria filosófica  ; outra ponte a cair foi a do modelo americano, no 11 de Setembro ; agora recentemente caira a da iluministaliberdade de expressão , na França aberta por perucas cínicas e bem humoradas como as de Voltaire. Outras cairam nas ciências "exatas"" mesmas, na física, na matemática e na geometria do arquiteto cuja competência o motorista pode verificar no sucesso prático de sua ponte.  Exatamente a aparente inverificabilidade pública da filosofia, somada ao fator da entrada da academia num pleito da jusiça social que não ser sua principal função, é que deixa o campo aberto para o charlatanismo intelectual ( do que gostaria de urgentemente me descontaminar ). A competência do filósofo está no momento em que ele conceitua "vida" e "bem" e impede ou autoriza um aborto; a do médico consiste em não ignorar o escrito do filósofo sobre a situação-limite deste. Aí  é que formam-se pontes; aí é que são julgadas publicamente. Da mesma forma o arquiteto: se sua ponte forma um arco, como símbolo do infinito, ou uma reta, como símbolo do progresso, ou enfim, não configura símbolo nenhum por economia mesmo, então podem essas possibilidades  tomar parte no patrimônio espiritual chamado " cultura" , ao qual filosofias criticam e atribuem sentidosendo com isso de fato uma decisão entre possibilidades consistentes ou não , pelo contrário, abstendo-se disto, pensando entre possibilidades apenas virtuais e vazias, sendo assim nada mais que uma perigosa "acão-passiva".

Sunday, February 8, 2015

Linie




Die Liebe liebt leider ganz oder gar nicht.
Nicht das flüssige oder das himmelische Bild,
Sondern nur die undurchsichtbare, die zur würdigen Existenz gescheiterte Linie der Ausnahme selbst ist ihr Schiksal.

Post

Vê-se posts basilares sobre o imperialismo da religião, sobre a economia, sobre a vida, a ética, a alimentação, sobre o que é prazeroso e o que não é, enfim, sobretudo sobre a morte. Muitos deles resumem uma só afirmação vaga, unida a uma imagem. A maioria deles, contudo, é administrada pelo critério de pessoas - na maioria pessoas entediadas com o pôr do sol de domingo  - as quais neles importa   não a complexidade incômoda do problema, não a tarefa de erguer a mão limpa para resgatar o anel caído do fundo do lixo sanitário que tornou-se nossa história das idéias, mas apenas por entrenimento, apenas pela tirania anti-democrata do entretenimento.

Saturday, February 7, 2015

VAMOS PENSAR UM POUCO?


Quando um médico forma-se, perguntam-no onde ele está atuando, em qual consultório, e às vezes visitam-no como pacientes mesmo. Semelhante acontece com o advogado. Porém, forma-se um filósofo, torna-se doutor, ou toma mesmo a cadeira universitária de um outro, ensinando inclusive a muitos médicos e advogados - não poucas vezes os de cargo-chefe numa organização - não lhe é pedido sequer duas páginas do que ele escreve para se ler. O que ele afirma, é indiferente. Mil pessoas o "curtiram" no facebook; uma leu o resumo de seu principal artigo... Não é gozado? Vale a pena decidir-se quanto a isso. O não-filósofo deve responsabilizar o filósofo, isto é, dar-lhe também em antecipação o mérito daquilo em que o filósofo deve um mérito.

OS BRASILEIROS...


... não fazem noção de seus próprios filósofos. As melhores publicações nossas são traduções, comentários, ou introduções, creem-no as principais editoras.
Nossos filósofos isentam-se da responsabilidade, seus escritos são covardes e poderiam não passar de tiras de uma coluna do Le Monde , do Frankfurter Allgemeine ou doutra magazine com que se mata o tédio do trem lendo sobre o poodle de Schopenhauer. Nestes é que escrevem de bom grado os "filósofos de equipe", higienicamente etiquetados.
O descrédito nacional torna compreensível que um filósofo brasileiro publique paralelamente em outra língua, ganhando seu pão nesta e não naquela. Seus conceitos formam-se na palavra estrangeira, com sua ausência perde a língua-mãe sua elegância na terminologia intelectual. Sem quem torne o saber algo mais do que aquilo que envergonha o que não sabe, enfim, sem a mediação de um erudito de letras, cuja altura dos ombros sobrepasse por força do próprio capital o corpo profissional de responsabilidade sempre de curto-prazo e transitória de universidades e editoras, o português divide-se entre linguagem-monstro e linguagem-preguiça, pensamento-monstro e pensamento-preguiça: aqueles atacam de modo voraz, crendo-se vitoriosos ao privatizar sua compreensão; estes fogem e comem a si mesmos, até restar um esoterismo binário de 'sim' e 'não'...

A PROFISSÃO DA ABSTRAÇÃO



...  não é,pois, abstrata. Enquanto outras arriscam-se na alienação do cotidiano, esta torna o risco do pensar algo além do cotidiano, mas que subterraneamente o envolve. O filósofo que pensa um problema corre risco de loucura, mas sua crise - que é tomada para si como a crise da humanidade inteira-  possivelmente ajudará o médico ou o advogado exatamente no momento da situação-limite, na hora em que, de costas para este, menos esperavam.

Devemos ser gratos pelo Ser estar sendo e funcionando a todo momento, sem te cobrar nada em troca.Sentir isto é uma forma de afinar e vibra...