... não fazem noção de seus próprios filósofos. As melhores publicações nossas são traduções, comentários, ou introduções, creem-no as principais editoras.
Nossos filósofos isentam-se da responsabilidade, seus escritos são covardes e poderiam não passar de tiras de uma coluna do Le Monde , do Frankfurter Allgemeine ou doutra magazine com que se mata o tédio do trem lendo sobre o poodle de Schopenhauer. Nestes é que escrevem de bom grado os "filósofos de equipe", higienicamente etiquetados.
O descrédito nacional torna compreensível que um filósofo brasileiro publique paralelamente em outra língua, ganhando seu pão nesta e não naquela. Seus conceitos formam-se na palavra estrangeira, com sua ausência perde a língua-mãe sua elegância na terminologia intelectual. Sem quem torne o saber algo mais do que aquilo que envergonha o que não sabe, enfim, sem a mediação de um erudito de letras, cuja altura dos ombros sobrepasse por força do próprio capital o corpo profissional de responsabilidade sempre de curto-prazo e transitória de universidades e editoras, o português divide-se entre linguagem-monstro e linguagem-preguiça, pensamento-monstro e pensamento-preguiça: aqueles atacam de modo voraz, crendo-se vitoriosos ao privatizar sua compreensão; estes fogem e comem a si mesmos, até restar um esoterismo binário de 'sim' e 'não'...
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