Tuesday, February 10, 2015

Ponte

   

Observemos o fato de que filósofos também, assim como os arquitetos verificáveis quanto sua competência, constróem pontes ou não, e que algumas caem logo e outras depois. Certas pontes, p.ex, não poucas, levaram à guerras mesmo. Trata-se de pontes também importantes: entre o ideal de representação e o estatuto de "real" do que é representado. De fato a verificabilidade da competência do corpo profissional é horrível e difícil em filosofia. Limito-me porém ao problema do interesse e da hipocrisia quanto à cidadania e mérito confusos da coisa. Contudo, não é de fato uma reclamação isto do que trato, bem pelos motivos que são tácitos:  contrária à ponte " real" e " de verdade", a ponte da representação é seduzida por seus infinitos multiortogonais e furta-se facilmente à prova da evidência. Não obstante, ela condiciona a própria evidência mesma, dando-lhe o critério. Só para um tipo de evidência  ela evidencia-se ainda de outra forma, mais direta, mais positiva que a evidência do sucesso prático: ela evidencia-se ao cair (...) A queda é imediata, diretamente violenta, nela quebram-se ao mesmo tempo problema, evidência e o sentido que os unia, tornando um o critério do outro. A ponte da representação - digamos a do sentido- caiu no momento em que, devido ao assassinato em 1914 do então herdeiro do trono austro-húngaro, Franz Ferdnand,  cometido por um jovem de apenas 18 anos, a por giro de valsas entorpecida estrutura da burguesia romântica cedeu à tentação de defender ao politicamente anônimo ideal da unidade nacional - um ideal de pátria filosófica  ; outra ponte a cair foi a do modelo americano, no 11 de Setembro ; agora recentemente caira a da iluministaliberdade de expressão , na França aberta por perucas cínicas e bem humoradas como as de Voltaire. Outras cairam nas ciências "exatas"" mesmas, na física, na matemática e na geometria do arquiteto cuja competência o motorista pode verificar no sucesso prático de sua ponte.  Exatamente a aparente inverificabilidade pública da filosofia, somada ao fator da entrada da academia num pleito da jusiça social que não ser sua principal função, é que deixa o campo aberto para o charlatanismo intelectual ( do que gostaria de urgentemente me descontaminar ). A competência do filósofo está no momento em que ele conceitua "vida" e "bem" e impede ou autoriza um aborto; a do médico consiste em não ignorar o escrito do filósofo sobre a situação-limite deste. Aí  é que formam-se pontes; aí é que são julgadas publicamente. Da mesma forma o arquiteto: se sua ponte forma um arco, como símbolo do infinito, ou uma reta, como símbolo do progresso, ou enfim, não configura símbolo nenhum por economia mesmo, então podem essas possibilidades  tomar parte no patrimônio espiritual chamado " cultura" , ao qual filosofias criticam e atribuem sentidosendo com isso de fato uma decisão entre possibilidades consistentes ou não , pelo contrário, abstendo-se disto, pensando entre possibilidades apenas virtuais e vazias, sendo assim nada mais que uma perigosa "acão-passiva".

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