Outro exemplo de crítica imanente: alguém vestido de formiga critica o formigueiro, não obstante ser-lhe impossível à sua vez deixar de ser peçonhento...
Esse ambiente narcísico aqui é tentador. À despeito das fichas de qualificação as quais o FB dispõe aos jogadores da escala darwiniana da "evolução" e da "adaptação", e já que alguns postam toda a própria intimidade em mil imagens publicadas entre 2000 "amigos" (sim, alguns tem 2000 mil, por que não?!) eu, na qualidade paradoxal ao mesmo tempo de crítico e usuário - ou seja, de hipócrita renegado - o faço tudo isso igualmente e sem rodeio em palavras mesmo... Nem sei como participar da roda. O jogo é ora um jogo de promoção do "eu", ora um jogo do consumo e propagação de resíduos culturais de rapida absorção mental, meros estimulantes analgésicos, na linha mesmo da fluxotina. Longe dos olhos de quem só vive na visão, alguns salvam-se na rara comunidade do diálogo aproximador : Alías, convido todos às auto-estatísticas em psicolingüistica, relacionar o próprio uso da fala à prazerosa autoimagem esculpida - hoje com as melhores ferramentas - nos olhares alheios... Melhor que espelho.
(Escrito originalmente do FB para cá.)
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Tuesday, January 31, 2012
Monday, January 30, 2012
IX
Que cada aforisma seja a mais fiel expressão de minha e de toda incompletude; uma incompletude, espera-se, análoga à breve duração de captar um instante da experiência em fino conceito, ou em fértil metáfora; incompletude análoga a uma Existência transcendente que sofresse em cada ser uma breve aparência de vida.
[E cada dor no instante é sofrida eternamente: pois revela-se e acontece na eternidade do espírito.
VIII
De vez enquando escrevo fora de lá algo que remete a lá mesmo, e o levo de forma suicida para seu anti-lugar, isto é, lá. É a chamada crítica à partir de dentro,aquela com que Adorno a tudo adornava... Vejamos e acompanhemos bem cada letra destes assobios!:
O facebook e o chat perdem para o século XIX o que era ao mesmo tempo a patologia e o auge da amizade: o compartilhamento do lírico através de cartas.
Por outro lado, aquele século não teve a graça de disfarçar sua fraquezas com a experiência mais chã da existência, isto é, usar ferramentas de linguagem e comunicação infinitas para compartilhar apenas o vazio e o tédio entre a amizade, isso que é expresso por seu maior sintoma: um compartilhamento prolíferoso de besteiras.
O facebook e o chat perdem para o século XIX o que era ao mesmo tempo a patologia e o auge da amizade: o compartilhamento do lírico através de cartas.
Por outro lado, aquele século não teve a graça de disfarçar sua fraquezas com a experiência mais chã da existência, isto é, usar ferramentas de linguagem e comunicação infinitas para compartilhar apenas o vazio e o tédio entre a amizade, isso que é expresso por seu maior sintoma: um compartilhamento prolíferoso de besteiras.
Sunday, January 29, 2012
VII
Como poderíamos contínuar, Srta.? Não há forma mais elegante do que uma frase pequena, em forma interrogativa, e de vasta sinonímia...
Pois bem. Acredito que o possível é tão infinito que ele esgota imediatamente, com um único olhar, o ser que o vislumbra. Pois no homem a possibilidade é antes de tudo - isto é, de ser condição da metafísica - um complexo de afetos e, portanto, um complexo de valores . Num homem sozinho, e em plena interioridade ante a vastidão do Firmamento,porém, o possível converte-se em impossível à luz do absoluto e do sublime; mas à luz do absoluto - a liberdade- é que isto - a possibilidade - verte-se em realidade entre os homems, embora sua angústia será sempre o caráter virtual de toda possibilidade. Ora, a impossibilidade do esgotamento do possível e sua angústia é o preço fáustico da liberdade.
Pois bem. Acredito que o possível é tão infinito que ele esgota imediatamente, com um único olhar, o ser que o vislumbra. Pois no homem a possibilidade é antes de tudo - isto é, de ser condição da metafísica - um complexo de afetos e, portanto, um complexo de valores . Num homem sozinho, e em plena interioridade ante a vastidão do Firmamento,porém, o possível converte-se em impossível à luz do absoluto e do sublime; mas à luz do absoluto - a liberdade- é que isto - a possibilidade - verte-se em realidade entre os homems, embora sua angústia será sempre o caráter virtual de toda possibilidade. Ora, a impossibilidade do esgotamento do possível e sua angústia é o preço fáustico da liberdade.
Friday, January 27, 2012
VI
Na vida a única coisa a se perder será a grande coisa que se teria ganhado, isto é, perder o que de fato não havia! Que coisa...
Thursday, January 26, 2012
V. "O filósofo nu. Ai que coisa ridícula..."
Kierkegaard já dizia: ai de quem revoga a interioridade ante ao geral ! O demoníaco é a zombaria!. H.Arendt*: o Eu, quando é ele mesmo, é justamente o idiota. Apoiado por Nietzsche**: Jesus teve a corajem de ser idiota... E a excêntrica interpretação de Camus***: Ao saber Jesus que ele era o culpado, suicidou-se... e só assim foi ele-mesmo. Essa primeira é tão absurda e verossímil ao mesmo tempo, que me faz rir de pavor.
* Em escrito sobre Maquiavel
** Em um aforisma
*** A Queda
Saturday, January 21, 2012
IV
Na interdisciplinariedade estão as possibilidades analógicas, e portanto, a profundidade e a penetração
do espírito em alguma unidade conceitual.
II
Penso que talvez seja impossível uma verdadeira interdisciplinariedade nos campos acadêmicos, pelo menos uma que valorize uma erudição variada e dasalienante.
A filosofia deve ser interdisciplinar, como na época em que Aristóteles, ou Eurípedes, dominavam vários outros conhecimentos. É preciso ter autonomia filósófica em relação à academia, mas sem esquecer desta como ginástica social do filósofo em seu tempo. Depois de morto, tanto faz: o que fará diferença é a obra escrita e a vida vivida.
Monday, January 16, 2012
I
A questão consiste em saber (A) se em matéria de ideologias ou filosofias somos contra a coisa (1) na coisa ou (2) fora da coisa.
E caso ainda (3) se o fazemos através da coisa.
Isto é, surge um problema paralelo(B): que direito tem as preposições de espacializar os territórios abstratos?
(Nossa Senhora...)
E caso ainda (3) se o fazemos através da coisa.
Isto é, surge um problema paralelo(B): que direito tem as preposições de espacializar os territórios abstratos?
(Nossa Senhora...)
Saturday, January 14, 2012
IX
"Doce o precipício de escorregar pelo outro!
Doce cólica de melancolia.
Doce tempo em que abre-se ao sono!
Doce volta pela neblina.
Ai ânsia de beijos,
Ai ânsia de alguém!"
Disso faz teus poemas, homem reverso;
mas neles esperes ninguém.
Doce cólica de melancolia.
Doce tempo em que abre-se ao sono!
Doce volta pela neblina.
Ai ânsia de beijos,
Ai ânsia de alguém!"
Disso faz teus poemas, homem reverso;
mas neles esperes ninguém.
VIII
Esses cantos tão belos...
Até o vento, sedento, perphia às vezes os túríbulos eólicos de meu pífano e os entoa em suas harmonias.
Até o vento, sedento, perphia às vezes os túríbulos eólicos de meu pífano e os entoa em suas harmonias.
VII
"-O que escreves?" Perguntaram os cisnes pela cauda do pavão.
" -Mozaicos Polissêmicos!"- Cantou este último.
" -Mozaicos Polissêmicos!"- Cantou este último.
VI
Convenhamos nós poetas, virtuais solitários;
Wittgenstein...Wittgensteni...
O que este homem diria do joguinho de linguagem chamado Facebook?
Real Playing Game, rpg?
"
Sunday, January 8, 2012
V
I .Ah se a página não virasse...
Na verdade , só ambigüamente é dito "eu te amo!"!; sempre tomando em vista a possibilidade de experiências com o outro, e - ainda que de fato alguém, por seu turno, o receba - tal nunca é dito para o outro efetivamente, do ponto de vista de quem julga estar amando . (Pois descobrir-se-ia este outro, na dupla qualidade de outro e de amado, só quando o coração passasse um rodeio nos conteúdos fixos da consciência e os trapassasse antes mesmo de refletirem-se nas possibilidades pretendendo realização: a natureza da alteridade é recusar a identidade e ser hostil à concepção). Muito bem. Naquela condição foi dito "eu te amo!". Mas chega hora, em que este outro - isto é, qualquer um dos dois- têm um lance de espiritualidade e de sentimento de si e ciúme daquela relação erótica do apaixonado consigo próprio por intermédio do fetiche que faz do amante; o outro reividica sua identidade só para si, quer-se inobjetivável, e então tudo rompe.
Isso é o segredo de toda melancolia pós-romance, e Pós-Romântica, que no entanto é um traço de consciência de uma melancolia pelo sentido: Esvai-se pelas imagens a certeza de que existimos em nós-mesmos; pois quando assim apaixonados romanceamos, vivemos intensamente o presente do futuro, isto é, a promessa de um presente! mas depois de romanceado... vivêmo-lo como passado, isto é, como um presente não cumprido.
(...)
Isso é o segredo de toda melancolia pós-romance, e Pós-Romântica, que no entanto é um traço de consciência de uma melancolia pelo sentido: Esvai-se pelas imagens a certeza de que existimos em nós-mesmos; pois quando assim apaixonados romanceamos, vivemos intensamente o presente do futuro, isto é, a promessa de um presente! mas depois de romanceado... vivêmo-lo como passado, isto é, como um presente não cumprido.
(...)
Ai...esta melancolia é uma angústia curada com objetivos ontológicamente tênues! - realidades sim inquestionáveis e narcóticas do coração passivo... mas sintomas fatais do sujeito expulso de seu presente.
II . Mas se a página virar...
Esta melancolia suicída, procura desesperadamente para si uma cura no sexo; e com esse vitalismo, ex Darwin prestou-se alguns narcóticos aos niilistas, renovou-se e justificou-se uma melodiosa visão capitalista da sedução, encabeçada pelo duo cinema-música , que ajudaram de modo panteônico a radicalizar e universalisar na fórmula de um erotismo funcional aquele paradigma difundido em Don Giovanni, mas criticado por K. Pois bem...de repente a melancolia acorda de sua dor de cotuvelo fim-de-novecento e faz propaganda de um sexualismo assim como quem fizesse propaganda da fome que deviamos sentir todos os dias !- sim, procura uma cura espiritual - qualquer suposto enquadrado na fórmula romântica do Ideal- em algo não-espiritual; propagandas de um sexualismo advento da emergência desesperada de esgotar-se* aquela possibilidade de sentido em que a melancolia angustiava , este qual passa a desempenhar um papel hiperativo e desesperado nestas tentativas frustradas - pois egoistas! -de reconstituição da "saúde" - sim, frustradas, dado que 'saúde' trata de um conceito global.
Resultado: suicidou-se a melancolia em seu próprio gozo salvatório, anulou-se o devaneio totalizante e assim perderam-se por aí espalhados os restos de um falso-sentido: este único vestígio de um sentido.
Bom, agora eu gostaria de me esconder nos espaços brancos desses dois parágrafos anteriores e espiar o caro leitor constatar em si mesmo o absurdo do estatuto erótico sob o qual esse par pretende ainda se casar, Amor e Sexualidade !
IV
Medite-se sem parar no seguinte:
Tão dito 'Cristo', Cristo é maldito.
Pronto? Então parou-se de meditar... !
Que signo mais ressurge ainda depois de trivializado, depois de tão remexido e confundido? Que sentido faz , ainda, um cristianismo ainda preponderante no universo do discurso?
E ainda, não obstante, já dizia um escritor dinamarquês.:
Nada mais pode ser recuperado, fora da fonte da repetição...
Tão dito 'Cristo', Cristo é maldito.
Pronto? Então parou-se de meditar... !
Que signo mais ressurge ainda depois de trivializado, depois de tão remexido e confundido? Que sentido faz , ainda, um cristianismo ainda preponderante no universo do discurso?
E ainda, não obstante, já dizia um escritor dinamarquês.:
Nada mais pode ser recuperado, fora da fonte da repetição...
III
O esforço ascético é não deixar o gênero humano sucumbir. Pode não significar propriamente uma superação otimista do humano, e sim uma resistência contra o anti-humano.
II
O começo do ano é um retorno. O calendário cíclico é a melhor lembrança contra o falso progresso no temporal. Angústia é esse confllito do ser finito em conflito com a eternidade cíclica do calendário:
A fé, espera-se, quebra todos os relógios...
E tanto quanto a ela, seria preciso tê-los no entanto;
Inteiros e perfeitos, antes de quebrá-los.
A fé, espera-se, quebra todos os relógios...
E tanto quanto a ela, seria preciso tê-los no entanto;
Inteiros e perfeitos, antes de quebrá-los.
Saturday, January 7, 2012
I
Gib mir die Gelassenheit, Dinge hinzunehmen,die ich nicht ändern kann;gib mir den Mut, die Dinge zu ändern,die ich ändern kann;und gib mir die Weisheit, das eine vom andern zu unterscheiden!
(autor desconhecido)
Ao diabo com as postagens de blogs fúteis; que a título da diversão e do descompromisso são negligentes e preconceituosos em relação a questões sérias. Isso só reve-la a ausência do sentido do cômico, e analogamente do trágico, em nossos meios de co-futilização. Todo ser humano hoje deve estar tão afastado das coisas e tão falsamente centrado em si que até uma piadinha de 30 anos atrás já lhe é incompreensível; pior fosse, p.ex, uma piada de Becket. Ora, todo pequeno interesse já é responsável por multiplicar no mundo ou não um estado de coisas, e dele nasce grandes investimentos concretos, na direção que for. Contudo a situação é que desde que trate de idéias, e não do sensorial que cerca essa nossa animalidade- tão preconizada por Darwin -a coisa já corre o risco de ser descartada por esse fascismo anti-cultura. Ainda que na aparente qualidade de chatófilo, repito com toda a dicção: ao diabo com estas postagens!
Ao diabo com as postagens de blogs fúteis; que a título da diversão e do descompromisso são negligentes e preconceituosos em relação a questões sérias. Isso só reve-la a ausência do sentido do cômico, e analogamente do trágico, em nossos meios de co-futilização. Todo ser humano hoje deve estar tão afastado das coisas e tão falsamente centrado em si que até uma piadinha de 30 anos atrás já lhe
é incompreensível; pior fosse, p.ex, uma piada de Becket. Ora, todo pequeno interesse já é responsável por multiplicar no mundo ou não um estado de coisas, e dele nasce grandes investimentos concretos, na direção que for. Contudo a situação é que desde que trate de idéias, e não do sensorial que cerca essa nossa animalidade- tão preconizada por Darwin -a coisa já corre o risco de ser descartada por esse fascismo anti-cultura. Ainda que na aparente qualidade de chatófilo, repito com toda a dicção: ao diabo com estas postagens! Friday, January 6, 2012
X
A melancolia é uma tonalidade negativa do sentimento, com o especial de envolver consigo uma promessa ou uma recordação de um prazer infinito e inalcançavel. A melancolia determina a angústia, o ser coloca-se não frente uma possibilidade vaga, mas frente a uma mecha de saudade e recordação; nela o próprio presente é vivido já na recordação.
Um de vários exemplos disto, a famosa serenata de Schubert; a tonalidade menor envolve quase que ambiguamente a maior , a qual vacila sobre aquela mas que firma-se no final. É a alegria vislumbrada já no desânimo, ou o desânimo que vislumbra uma alegria que não tem forças para alcançar. Mais propriamente, seria uma peça perfeita para aquele sujeito kierkegaardiano de A Repetição.
Um de vários exemplos disto, a famosa serenata de Schubert; a tonalidade menor envolve quase que ambiguamente a maior , a qual vacila sobre aquela mas que firma-se no final. É a alegria vislumbrada já no desânimo, ou o desânimo que vislumbra uma alegria que não tem forças para alcançar. Mais propriamente, seria uma peça perfeita para aquele sujeito kierkegaardiano de A Repetição.
Thursday, January 5, 2012
IX
Ao proferir o oráculo, ele guardou a verdade para si. E ao guardar a verdade para si, mostrou-a
através da própria conduta e do próprio exemplo, o qual mostrava-se misticamente em ressonância com harmonias de cordas universais: isto é, mostrou que a verdade é a verdade de si em uma Ordem.:
O asceta hermético cala-se. Os gênios - e nós acadêmicos,bajuladores de gênios- , inquietos, falam e gritam; mudos,proclamam e reclamam hiperativamente mesmo depois de roucos terem perdido a voz. Entre eles a destreza do pensador aforístico, do anti-filósofo: passa por diplomata, constrói terrenos sofísticos sob medida, e sua habilidade vital é saltar os abismos entre aqueles precedentes.
VIII
Diferente de certos livros anafóricos e que implodem em si mesmos, o aforisma tensiona a interpretação e explode o significado para fora de si, retira-lhe o envólcro e o devolve à vida. No estado idílico em que se encontra o discurso, isto é, ilhado, o preço pago ganha a ambigüidade metafórica de todos os horizontes.
VII
-A vida é um envelhecimento,e vai rumo à caveira. É tudo questão de enriquecer o espírito contra a pobreza da velhice, nossa e do próximo. Permanece, porém, só aquilo que na vida , entretanto, nunca fôra vida de fato.
VI
O aforismo fora a sentença do sábio, mas agora é sobretudo o gênero do desespero daquele outrora sábio. A eternidade é nele perdida e revogada na impaciência do agonizante. Em meio à febre do pensar o caminho não é mais sequer planejado, não o pode ser. Os estilhaços são a única realidade, e a verdade é deles fazer-se o mais belo e kaleidoscópico mozáico. A única verdade é dar testemunho de si na situação do estilhaçamento. É indicar o alvo com o próprio indicador, e não com o da mão de outrem. E isto apenas ao que crê, ao próximo. Ao exterior não há nada mais a ser provado no terreno do substancial, e nem que seja preciso sê-lo. O sujeito que o prove em si, o arco da morte e do envelhecimento abre-se igual para todos. O que garantirá a autenticidade deste testemunho será fazê-lo esquecido do mundo e na grandeza de enfrentar o fatídico erguido contra o olhar infinito e temível de Cristo.
O aforismo é o pensamento que anda nu na propria redoma, e que de seu refúgio encalorado só exterioriza durante a necessidade visceral, pois sofre demasiado de frio.
O aforismo é um grito, e um grito que não se prolonga em capítulos: sua forte intensidade é breve mas deve ecoar eternamente nas cavernas do espírito, e tanto mais quanto mais imensas forem.
O aforismo é o pensamento que anda nu na propria redoma, e que de seu refúgio encalorado só exterioriza durante a necessidade visceral, pois sofre demasiado de frio.
O aforismo é um grito, e um grito que não se prolonga em capítulos: sua forte intensidade é breve mas deve ecoar eternamente nas cavernas do espírito, e tanto mais quanto mais imensas forem.
VII
Ele só tem rudimentos de filosofia. E na medida em que sejam bons,na medidade em que sejam bem tratados e bem escolhidos, escolhidos com o coração, são ainda - contra todas as objeções- rudimentos do infinito.
E conforme sejam rudimentos do infinito, são provas também da fertilidade do filosófico, da fertilidade de um verso que se multiplicou, se descaracterizou e se complexou.
Ora,o filósofico deve ainda hoje, e, justamente, apesar da História, pagar seus tributos com a ordem mítico-poética do mundo e tornar o indivíduo fértil e sagrado como a terra, até que seja verificado aquele solo fértil onde, como disse aquele cristão, é que semear-se-á devidamente a fé . Caso contrário, de que valeria um extenso conteúdo, mas tal que torna-se o homem frio e estéril? E no entanto, porém, não mal-dizemos nem desmerecemos um extenso conteúdo.
A prova de que se compreendeu filosofia é este sentimento ao mesmo tempo arrogante e humilde de uma autonomia do pensar: esta autonomia pode cegar,e ser arrogante, ou humilhar-se humildemente frente o sublime da autoconsciência infinitamente inquieta e insaciada de si mesma. O que compreendeu algo, não conseguiu deixar de pensar imediatamente no sentimento de responsabilidade e seriedade de sua parte em relação ao conteúdo, não conseguiu deixar de tomar parte no conteúdo, ainda que sua parte nele seja menor que a dos grandes filósofos, que a dos grandes cientistas, que a de qualquer celebridade de gênio.
A fertilidade própria da filosofia, e do pensamento abrangente e totalizante em geral, é não uma criação de bajuladores de textos e filósofos, mas uma criação de criadores, sejam eles na quantidade e na especificidade, na qualidade e na abrangência, sejam eles nos defeitos e inabilidades que forem . O que não cria, o que espera o outro dar o passo adiante, este corre o risco de ser irresponsável,de ser o inconseqüente, e de remexer com mão suja as feridas do pensamento.Não o criador.
Não, o criador sente-se ligado ao que faz como que por uma só pele, e às conseqüencias dos próprios filhos responde com seriedade, até mesmo a relação de qualquer erro com os mesmos é baseada no respeito e no profundo arrependimento.
Cada rudimento filosófico é infinitamente potencial, na medida em que sua possibilidade é fertilizada e semeada por uma carência de infinito e de sentido.Nele, pois, pensar é criar vias de acesso a si-mesmo e concomitantemente, à uma realidade exuberante.
E conforme sejam rudimentos do infinito, são provas também da fertilidade do filosófico, da fertilidade de um verso que se multiplicou, se descaracterizou e se complexou.
Ora,o filósofico deve ainda hoje, e, justamente, apesar da História, pagar seus tributos com a ordem mítico-poética do mundo e tornar o indivíduo fértil e sagrado como a terra, até que seja verificado aquele solo fértil onde, como disse aquele cristão, é que semear-se-á devidamente a fé . Caso contrário, de que valeria um extenso conteúdo, mas tal que torna-se o homem frio e estéril? E no entanto, porém, não mal-dizemos nem desmerecemos um extenso conteúdo.
A prova de que se compreendeu filosofia é este sentimento ao mesmo tempo arrogante e humilde de uma autonomia do pensar: esta autonomia pode cegar,e ser arrogante, ou humilhar-se humildemente frente o sublime da autoconsciência infinitamente inquieta e insaciada de si mesma. O que compreendeu algo, não conseguiu deixar de pensar imediatamente no sentimento de responsabilidade e seriedade de sua parte em relação ao conteúdo, não conseguiu deixar de tomar parte no conteúdo, ainda que sua parte nele seja menor que a dos grandes filósofos, que a dos grandes cientistas, que a de qualquer celebridade de gênio.
A fertilidade própria da filosofia, e do pensamento abrangente e totalizante em geral, é não uma criação de bajuladores de textos e filósofos, mas uma criação de criadores, sejam eles na quantidade e na especificidade, na qualidade e na abrangência, sejam eles nos defeitos e inabilidades que forem . O que não cria, o que espera o outro dar o passo adiante, este corre o risco de ser irresponsável,de ser o inconseqüente, e de remexer com mão suja as feridas do pensamento.Não o criador.
Não, o criador sente-se ligado ao que faz como que por uma só pele, e às conseqüencias dos próprios filhos responde com seriedade, até mesmo a relação de qualquer erro com os mesmos é baseada no respeito e no profundo arrependimento.
Cada rudimento filosófico é infinitamente potencial, na medida em que sua possibilidade é fertilizada e semeada por uma carência de infinito e de sentido.Nele, pois, pensar é criar vias de acesso a si-mesmo e concomitantemente, à uma realidade exuberante.
VI
O artista não deve ver sua arte como um trabalho que dá prazer, mas inversamente, como
um prazer cuja consequëncia é muito trabalho. Se o artista coloca o trabalho como anterior ao
prazer, pode perder em sua alienação inerente o senso da idéia, ou do belo, e assim padecer no próprio trabalho. Só um prazer estético anterior e original, que antecede à obra e já na forma de idéia,é que consegue no amor que suscita, impulsionar ao trabalho com as forças e perfeições próprias de qualquer compromisso com o infinito.
Fora o vigor sadio do júbilo, que surge no coração de um amador especial, aquele profissionalmente capaz, e aquele júbilo referido em certas peças de Bach, p.ex., a única coisa que a doença moderna produziria com vigor, seria um apelo à sua própria cura - tal como o figurou bem o expressionismo de Webern, e por conseguinte as formas radicais de saturação e esterilização da música em arte sonora, como nos compositores experimentais.
Neste sentido, na categoria do "amador" é que estaria hoje o estético, e que só tomando esta como pressuposto poder-se-ia entender apropriadamente a contradição que é o "artista profissional", dado a problemática capitalista e anti-estética por excelência do "profissional"*.
* Ora,a impossibilidade do artista autêntico na atualidade é abordada por muitor autores. Foi prenunciada , por exemplo, por Hegel, em suas lições de Estética, e constatada, ainda como exemplo, por S. Beauvoir, tal em "O Pensamento de Direita, Hoje", no breve capítulo referido à arte.)
um prazer cuja consequëncia é muito trabalho. Se o artista coloca o trabalho como anterior ao
prazer, pode perder em sua alienação inerente o senso da idéia, ou do belo, e assim padecer no próprio trabalho. Só um prazer estético anterior e original, que antecede à obra e já na forma de idéia,é que consegue no amor que suscita, impulsionar ao trabalho com as forças e perfeições próprias de qualquer compromisso com o infinito.
Fora o vigor sadio do júbilo, que surge no coração de um amador especial, aquele profissionalmente capaz, e aquele júbilo referido em certas peças de Bach, p.ex., a única coisa que a doença moderna produziria com vigor, seria um apelo à sua própria cura - tal como o figurou bem o expressionismo de Webern, e por conseguinte as formas radicais de saturação e esterilização da música em arte sonora, como nos compositores experimentais.
Neste sentido, na categoria do "amador" é que estaria hoje o estético, e que só tomando esta como pressuposto poder-se-ia entender apropriadamente a contradição que é o "artista profissional", dado a problemática capitalista e anti-estética por excelência do "profissional"*.
* Ora,a impossibilidade do artista autêntico na atualidade é abordada por muitor autores. Foi prenunciada , por exemplo, por Hegel, em suas lições de Estética, e constatada, ainda como exemplo, por S. Beauvoir, tal em "O Pensamento de Direita, Hoje", no breve capítulo referido à arte.)
V
É como se relatasse de modo radical cada microprocesso da alma, a nuance de cada movimento psicológico de frente para um ambiente angustiante: o expressionismo.
IV
Enquanto estamos vivos dialogamos com vultos, e quando mortos, talvez, com pessoas que se esforçam por tornarem-se vivas o suficiente para nos compreender
Monday, January 2, 2012
III
Conseqüencia de um homem desenvolto do mítico, a filosofia nasceu em verso. Até que ponto não é ela ainda um genêro literário, e propriamente um "filosofês"? Aonde que sentimos seu discurso ferir a realidade, senão por um pathos proporcionado por um belo e bem jogado xadrez da razão? Não é em filosofia a verdade uma ratio devido ao estado de espírito, a mesma que na obra de arte é beleza?
II
Do ponto de vista da profissão, a realização do fim pede uma comparação exterior. Do ponto de vista da auto-realização, a realização não pede nenhuma comparação, fora a comparação interior. O que significa, pois, uma auto-realização na profissão?
O Alpianista - Uma paráfrase para a questão do si-mesmo.
Há profissionais que se levam a sério na atividade, outros não.
Se você é alguém que leva a sério a si mesmo e sente-se de vez em quando afetado - por exemplo, enquanto pianista- por pianistas melhores que você e faz com isso diversas chacotas de si proprio, por mais que tente algo contra; se você for, como eu, um destes seres autofágicos, com compromissos infinitos consigo próprio e que correm constante risco de vida devido a uma força tal como aquela que empurra certos alpinistas para o pico, sem que estes usem sequer aparelhos adequados para isto, se você for tudo isto então me acompannhe no seguinte:
(Alegorizo qualquer profissão.)Imagine um super-pianista, chamado Player, que tem todos o incríveis e extraordinários poderes que um artista possa almejar. Ele toca, por exemplo, todo o repertório pianistíco a qualquer momento:repertório solo, camerístico, orquestral;e tanto em condições favoráveis e desfavoráveis sua inspiração permanece intocada, tal como se vivesse acima mesmo do Olimpo. Ele agrada qualquer juiz. Ele é solicitado por todas as gravadoras. É apreciado por todos os críticos e dele até ao público mais leigo qualquer obra soa facilmente compreensível. Além disso é bonito e tem boa aparência no palco. Sua leitura a primeira vista é igualmente impecável,já que o aprendeu antes mesmo de sua alfabetização: sempre depois do café-da-mannhã pega uma partitura de sua biblioteca e lê-a com enorme gozo e emoção. Não precisa de muito tempo para renovar o repertório e como seu estudo abstém de muita repetição, está com a cabeça sempre tranqüila para outras atividades , como ler um livro e paquerar. Claro, ao piano ele chega sempre saudável e disposto, com mãos invulneráveis. Ora, o Player é, de fato, exepcional, e por isso todos os querem em sua sala. Se não gostamos, por exemplo, do modo que ele toca alguma peça, ele muda conforme o público, e se adapta tão bem aos nichos culturais mais diversos que Darwin o elogiaria muito se aqui o assistisse. Enfim, não seria difícil extender a descrição de suas habilidades!
Surge então a pergunta: Meu deus do céu, quem é "profissional" e quem é "amador" ao lado do Player?!
Caso você tenha imaginado este espécime devidamente, acontecerão três eventos catárticos em tua vida:no primeiro momento pensarás consigo e irás verificar em seu coração o seguinte: "droga,sempre será sempre impossível..."
Daí, o segundo evento: você irá parar de tocar um dia, depois de saturar-se na competição e ter perdido nisso todo o senso estético e musical. E noutro dia irá tocar, mas fracamente, menos. Então chegará uma hora em que você quererá de fato parar,nem que seja para um longo descanço,e para.
Esta hora é a crucial. Se você sentir-se tal como um nadador que vai de uma ilha à outra, um nadador que ao se cansar demais no meio do caminho se obriga a descançar ali mesmo ,boiando, e que por isso não é dado parar para sempre, nem por muito tempo, então você entendeu que a tua relação com o tua arte e com teu serviço para os outros, é, sobretudo, contigo mesmo; e que o outro, isto é, o Player, é paradoxalmente a medida: não a de teu sucesso em relação a ele e aos que são dele e para ele, mas a medida de teu sucesso em relação àquela impossibilidade geniosa de parar, isto é, aquele momento em que sentiste uma vontade na qual os próprios limites de teu ser foram esquecidos, e apenas desta forma, suprimidos por um momento.
Agora você descobre algo mais importante que qualquer grau nos caminhos afortunados:isto é, que há dois infinitos bem importantes: o infinito entre os diversos caminhos afortunados e seus graus, e o infinito sem grau da identidade de ti contigo mesmo.
(imagem: Hammershoi, pós-romatismo dinamarquês.)
Sunday, January 1, 2012
II - I
O filósofo hoje suporta por quanto tempo,se isto for preciso para sua integridade, ser idiota e ridículo?
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Devemos ser gratos pelo Ser estar sendo e funcionando a todo momento, sem te cobrar nada em troca.Sentir isto é uma forma de afinar e vibra...
-
No matter what you think about mystic, or what mysticists say about everything: if you begin to think , you become aware how misterious ...
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If one is not asking for help, helping too much can be manipulation. That is why charity is something so rare: the person who cares for a...